"Demarcar é preservar": indígena cobra ações ambientais no G20 Social
© TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL |
Com palavras que trouxeram emoção e uma forte dose de realidade, a líder indígena Marciely Ayap Tupari, representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), fez um discurso poderoso nesta sexta-feira (15), no G20 Social. O evento, que aconteceu em paralelo à Cúpula de Líderes do G20, colocou os holofotes sobre a preservação ambiental e os direitos dos povos nativos.
Tupari foi direta: “Os povos indígenas são só 5% da população mundial, mas cuidam de 80% da biodiversidade do planeta. Isso é fruto do nosso conhecimento ancestral e do sangue dos nossos parentes que já se foram.”
A líder destacou a urgência de tratar a demarcação das terras indígenas como uma pauta climática global e ressaltou que os povos originários sempre viveram de forma sustentável, enquanto o mundo parece estar apenas começando a entender a importância disso.
Sustentabilidade já é realidade indígena
Para Tupari, os povos indígenas têm muito a ensinar sobre como viver em harmonia com a natureza. “Sustentabilidade não é moda para nós, é prática. O que vivemos hoje no clima é consequência de decisões de décadas atrás. E se continuarmos errando, o que será das futuras gerações?”, questionou, em tom de preocupação.
Ela também alertou sobre o Marco Temporal, um projeto que ameaça reduzir os direitos indígenas sobre suas terras. Tupari foi enfática ao dizer que proteger esses territórios é proteger o clima do planeta. “Sem as terras indígenas, o clima sofre ainda mais. A demarcação é uma solução, não um problema”, afirmou.
Petrobras na Margem Equatorial: um risco para todos
Tupari não poupou críticas ao projeto da Petrobras de explorar petróleo na Margem Equatorial, que abrange uma área sensível da costa brasileira. Para ela, insistir na extração de combustíveis fósseis é um retrocesso.
“Já passamos do ponto de evitar que o aquecimento global chegue a 1,5°C. Continuar explorando petróleo, ainda mais na Amazônia, vai na contramão de qualquer compromisso ambiental sério. O Brasil precisa decidir se quer ser exemplo de sustentabilidade ou mais um explorador irresponsável”, disparou, recebendo aplausos.
Burocracia trava promessas climáticas
Outro ponto de crítica foi a dificuldade que os povos indígenas enfrentam para acessar financiamentos destinados à preservação ambiental. Segundo Tupari, os fundos internacionais existem, mas o dinheiro não chega às comunidades por causa de barreiras burocráticas.
“As promessas são feitas, mas nós, que estamos na linha de frente, não vemos nada. Hoje estamos criando nossos próprios fundos para tentar driblar essa burocracia. É muito discurso e pouca ação real”, lamentou.
Mobilização na COP 30
Marciely Tupari deixou claro que a luta está longe de acabar. Ela afirmou que os povos indígenas estão se organizando para marcar presença na COP 30, que será realizada em Belém, no próximo ano.
“Vamos continuar defendendo nossos direitos e os territórios. Não vamos permitir que decisões ruins prejudiquem ainda mais o clima e nossas comunidades. O mundo precisa nos ouvir.”
O discurso de Tupari foi mais que um apelo; foi um lembrete de que a luta indígena pela preservação ambiental não é apenas uma causa local, mas uma questão global. Ela saiu do palco sob aplausos e com a certeza de que sua mensagem ecoou além das paredes do evento.
Ronald Stresser, com informações da Agência Brasil.
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