Desempenho de cotistas supera expectativa e reforça importância das ações afirmativas no ensino superior
Marcha antirracista na Unicamp (2017) - Rafael Kennedy/Mídia Ninja |
Os dados do Censo da Educação Superior 2023 trouxeram uma revelação impactante e desmentem uma ideia que há muito tempo circula entre os críticos das políticas de inclusão: cotistas não só conseguem manter um bom desempenho acadêmico, como também superam os colegas que não ingressaram por ações afirmativas. O estudo apontou que, nas universidades federais, 51% dos estudantes que entraram por cotas concluíram seus cursos no último ano, enquanto o índice entre os não cotistas foi de 41%. Já nas faculdades privadas, os números são ainda mais impressionantes – 58% dos beneficiários do Prouni e 49% dos do Fies terminaram a graduação, comparados a 36% e 34%, respectivamente, dos alunos sem bolsa ou financiamento.
Esses dados evidenciam que cotas não são inimigas do mérito, como muitos insistem em afirmar. Pelo contrário, demonstram que, quando dadas as ferramentas e o acesso, estudantes de origem humilde, em sua maioria vindos de escolas públicas e pertencentes às comunidades preta e parda, podem e vão além. Como Ana Cristina Rosa, jornalista e vice-presidente da ABCPública, salienta: “Quem se vê diante da melhor – e talvez única – chance de transformar sua vida agarra essa oportunidade com todas as forças”.
A trajetória dos cotistas geralmente envolve desafios diários: acordar de madrugada para trabalhar, frequentar aulas à noite após um longo dia, enfrentar horas de deslocamento em transporte lotado e, muitas vezes, lidar com a fome. Esses obstáculos moldam a resiliência e a determinação que se refletem nos resultados acadêmicos. Longe de ser um caminho fácil, essa realidade prova que cotas não diminuem a qualidade dos alunos, mas nivelam as oportunidades, proporcionando o tão necessário acesso a uma educação que pode redefinir trajetórias.
O debate sobre o mérito das ações afirmativas voltou a ganhar força recentemente com a ação civil pública movida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) contra a reserva de vagas no Exame Nacional de Residência, sob o argumento de “discriminação reversa”. No entanto, o Censo 2023 age como um lembrete claro de que os cotistas não apenas competem em igualdade de condições, mas muitas vezes superam expectativas.
O acesso à universidade, embora não garanta uma vida livre de dificuldades, abre portas e melhora perspectivas. O crescimento no número de universitários registrado em 2023 – o maior em nove anos – reforça a sede por educação e a consciência de que ela é um alicerce fundamental para um futuro mais equitativo. Para entender mais profundamente a realidade desses estudantes, o livro "De Onde Eles Vêm", de Jeferson Tenório, lançado em 2024, é uma leitura recomendada e uma janela para as histórias de luta e superação que compõem esse cenário.
Essa nova realidade acadêmica é, acima de tudo, um passo adiante na busca por uma sociedade mais justa e inclusiva, onde o mérito verdadeiro se traduz não apenas em conquistas, mas também em reconhecimento e oportunidades iguais para todos.
Ronald Stresser, da Redação.
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