quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Editorial: Requião, o fator surpresa na eleição de Curitiba

Em campanha no bairro do Tarumã, com o maior estadista vivo do nosso estado, Roberto Requião / Acervo pessoal

As eleições municipais de 2024 em Curitiba estão se mostrando cada vez mais imprevisíveis, com a última pesquisa da Quaest, encomendada pela RPC, revelando uma disparada de Eduardo Pimentel (PSD), que agora lidera com 36% das intenções de voto. Entretanto, mesmo com o aparente domínio de Pimentel e o crescimento de Luciano Ducci (15%) e Ney Leprevost (12%), não se deve subestimar a capacidade de Roberto Requião (Mobiliza) de surpreender nas urnas.

O ex-governador do Paraná, que aparece com 8% nesta nova rodada de pesquisas, é conhecido por sua resiliência e por virar o jogo em momentos críticos. Em campanhas anteriores, Requião já se viu em situações adversas e conseguiu reverter cenários improváveis, beneficiando-se de seu eleitorado fiel e de um discurso combativo que mobiliza seus seguidores.

Eleitorado fiel e experiência em viradas

A força de Requião reside, sobretudo, em sua base eleitoral sólida. Ao longo de décadas de vida pública, ele construiu uma identidade política que ressoa profundamente com uma parcela significativa do eleitorado de centro-esquerda e moderado. Mesmo em um momento de queda, seu histórico de viradas eleitorais não pode ser ignorado. Campanhas como as de 1990 e 2002, nas quais Requião superou prognósticos desfavoráveis, servem de exemplo de como sua experiência e capacidade de comunicação podem redefinir o cenário em pouco tempo.

Polarização e oportunidade

Curiosamente, a possível polarização do pleito pode se tornar uma vantagem para Requião. Em Curitiba, uma cidade historicamente conservadora e com a maioria do eleitorado avessa às políticas associadas ao Partido dos Trabalhadores (PT), Requião não é visto como um candidato de Lula — figura que possui uma rejeição ainda maior entre os eleitores curitibanos. Isso lhe concede uma posição de oposição tanto ao neoliberalismo burguês, representado por Pimentel, quanto à direita mais radical, cujo conservadorismo se aproxima das raízes do integralismo, como no caso do vice na chapa da situação, que tem a figura controversa do paulista Paulo Martins como candidato a vice-prefeito de Eduardo Pimentel.

Essa posição de "terceira via" — nem associado diretamente ao lulismo, nem à direita tradicional — pode fortalecer Requião em um segundo turno. Se a eleição se polarizar entre Pimentel e um nome mais conservador, como Ducci ou Leprevost, Requião pode emergir como o candidato capaz de atrair tanto a esquerda quanto eleitores moderados que rejeitam os extremos representados por Lula e Bolsonaro.

O "Requião velho de guerra" mais forte do que nunca

Um dos maiores trunfos de Requião sempre foi sua persona pública combativa, o "Requião velho de guerra", como ele é popularmente conhecido. Seu eleitorado responde a esse estilo: o político que desafia o status quo, que se indigna com a corrupção, com o sucateamento dos serviços públicos e que não hesita em usar uma linguagem direta e crítica. A campanha atual, no entanto, carece de uma ênfase nesse lado mais autêntico de Roberto Requião — grande estadista paranaense que não mede palavras ao falar em "pau, polícia e cacete" quando o tema é o mau atendimento de saúde, educação precária, falta de teto, trabalho ou a mercantilização na Bolsa de São Paulo do transporte público, que pode resultar em tarifas exorbitantes.

Há tempo para que Requião recupere esse tom. Se sua campanha conseguir resgatar esse espírito combativo e comunicar de forma mais efetiva suas críticas aos problemas que afetam Curitiba, ele poderá reconectar-se com o eleitorado que historicamente o apoiou e o levou à vitória em diversas ocasiões. Um eleitorado que, mesmo diante de um cenário desfavorável, segundo algumas pesquisas eleitorais, ainda pode fazer ecoar o famoso grito de campanha: "Táca-le pau, Requião velho!"

Nunca subestime o mais experiente

Com 17 dias para as eleições, Requião ainda pode surpreender outra vez, especialmente se conseguir mobilizar os indecisos e os eleitores desencantados com os outros candidatos. O que ele precisa é apenas rever sua estratégia e mover algumas peças com a inteligência que lhe é peculiar. Em uma cidade que já mostrou várias vezes ser capaz de surpresas eleitorais, o veterano da política curitibana ainda tem cartas na manga para jogar. Como o irlandês Edmund Burke alertou certa vez, em sua mais célebre frase: “Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la.” Ignorar a trajetória de Roberto Requião pode ser um erro de cálculo para quem acredita que a eleição de 2024 já está decidida.

Burke também definiu a política como um exercício em que é preciso respeitar “um princípio seguro de conservação e um princípio seguro de transmissão, sem excluir um princípio de melhoria". Conservação, transmissão e melhoria, portanto seguiriam uma ordem lógica, e não arbitrária. Este raciocínio pode perfeitamente se aplicar ao atual cenário da corrida eleitoral em Curitiba, afinal o conservadorismo bolsonarista hoje é considerado discutível, mesmo entre os maiores entusiastas da direita. Da mesma forma, a transmissão do poder proveniente do Governo Federal, na figura de Lula, não é considerado como certo, já que a chapa formada por PSB e PDT, com apoio do PT, PV e PC do B, é encabeçada por um político que votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, fator que para as bases da esquerda paranaense é tido como desabonador da imagem de Luciano Ducci.

Estratégia, base fiel e força para a virada

Um político experiente como Requião jamais deve ser subestimado, como parece estar acontecendo por parte de seus adversários que contam com o tempo gratuito de Rádio e TV, somado às polpudas fatias do fundo partidário eleitoral. Sua longa trajetória política lhe confere um profundo entendimento das dinâmicas eleitorais e uma habilidade única de se reconectar com suas bases eleitorais. Além disso, Requião tem um histórico comprovado de reviravoltas em campanhas, conseguindo mobilizar uma base de apoio fiel e consistente mesmo em cenários adversos como o atual.

A capacidade de discurso combativo, aliada a uma forte presença nas redes sociais, o torna um adversário difícil de ignorar e, segundo fontes fiáveis, isso está tirando o sono dos responsáveis pelas campanhas adversárias. Além do mais, seu eleitorado é fiel e, muitas vezes, disposto a defendê-lo veementemente de ataques políticos, criando um ambiente favorável para que ele se recupere nas próximas pesquisas de intenção de voto.

Para que Requião tenha sucesso nas eleições de 2024, ele precisa apenas ajustar sua estratégia, revitalizando uma campanha que até agora parece não se dar conta do potencial que tem em mãos, com Requião encabeçando uma chapa que concorre diretamente à Prefeitura de Curitiba com candidatos também já conhecidos do eleitor curitibano.

Um ponto crucial para promover a virada parece ser a mudança no comando de sua equipe, adotando uma comunicação mais direta, agressiva e autêntica, que resgate a imagem do "Requião velho de guerra", que o público curitibano conhece e admira. Isso, somado a um foco em questões locais urgentes, como transporte, segurança e saúde pública, pode energizar sua base e atrair novos eleitores que buscam uma alternativa além do lulismo, e que supere o bolsonarismo, ambas correntes políticas despidas do paranismo e do bairrismo próprio ao eleitorado da capital, gente humilde simples e trabalhadora, que com muita tranquilidade costuma afirmar que: "o que é de Curitiba, não sai de Curitiba."

 
Ronald Stresser, redator-chefe do Blog Sulpost.


O resgate da imagem do Requião velho de guerra: "aí, comigo é pau, polícia e cacete."

@stresser13 Sem arrego para os terroristas… Com #Requião ♬ som original - Ronald Stresser

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