sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Águas perigosas: aumento do nível do mar e crise climática

Águas perigosas: aumento do nível do mar expõem gravidade da crise climática global

Por: Ronald Stresser | Setembro de 2024

Tuvalu, no sul do Oceano Pacífico, é altamente suscetível aos efeitos do aquecimento global - PNUD Tuvalu/Aurélia Rusek

O secretário-geral da ONU,  António Guterres, em recente discurso durante uma plenária de alto nível das Nações Unidas, fez um alerta contundente: "Estamos em águas perigosas". A declaração ressalta o avanço acelerado do aumento do nível do mar, um dos efeitos mais palpáveis da emergência climática que o mundo enfrenta. As emissões de gases de efeito estufa, principalmente pela queima de combustíveis fósseis, estão aquecendo o planeta e provocando o derretimento de calotas polares, fenômeno que ameaça tanto países insulares quanto grandes cidades costeiras, sendo assaz lembrar que a extensão da costa brasileira é de 7.637 km, mas pode chegar a 8.500 km se forem consideradas as baías.

Acelerado e devastador

Estudos científicos recentes confirmam a preocupação de Guterres. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o nível do mar subiu mais rapidamente nas últimas três décadas do que em qualquer outro período nos últimos 3 mil anos. Essa aceleração é impulsionada pela fusão de geleiras na Groenlândia e na Antártica Ocidental, além da expansão térmica dos oceanos.

De acordo com Guterres, a taxa de elevação do nível do mar dobrou desde os anos 1990, e as previsões mais pessimistas indicam que, se as emissões continuarem nos níveis atuais, áreas habitadas por cerca de 900 milhões de pessoas estarão sob ameaça direta nas próximas décadas.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) também divulgou dados alarmantes, destacando que, em 2022, o nível do mar atingiu uma alta recorde global, aumentando 4,5 milímetros em relação ao ano anterior. As regiões mais vulneráveis, como Bangladesh e pequenas nações insulares no Pacífico, já estão lidando com impactos severos. Em Vanuatu, as terras agrícolas estão sendo salinizadas pela água do mar, prejudicando a produção de alimentos e comprometendo a segurança alimentar da população.

Impactos socioeconômicos devastadores

O impacto não é apenas ambiental. As implicações econômicas são bastante amplas e já começam a ser sentidas. Comunidades costeiras, especialmente em países em desenvolvimento, enfrentam custos crescentes para se adaptar às mudanças. Cidades como Miami e Nova York, nos Estados Unidos, e Porto Alegre, no Brasil, também estão investindo bilhões em infraestruturas para mitigar os danos, como barreiras contra enchentes e elevação de rodovias.

Contudo, as adaptações não são suficientes. Guterres reforçou que, sem uma ação coordenada e imediata para reduzir as emissões globais de carbono, o aumento do nível do mar continuará a deslocar milhões de pessoas, devastar economias e potencialmente destruir nações inteiras. A ONU estima que até 2050, mais de 1 bilhão de pessoas podem ser deslocadas por desastres climáticos, com o aumento do nível do mar sendo um dos principais fatores.

Alerta mundial

O secretário-geral pediu que as nações do G20, que respondem por cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa, liderem esforços para mitigar essa crise. Ele destacou a necessidade de uma resposta robusta e alinhada com o Acordo de Paris, com ações que limitem o aumento da temperatura global a 1,5°C. O fracasso em conter essa elevação pode desencadear o colapso irreversível das geleiras, amplificando o ritmo de elevação dos oceanos.

A meta, no entanto, não é apenas reduzir emissões. Guterres enfatizou que os países devem investir em sistemas de alerta precoce e estratégias de adaptação que protejam as populações mais vulneráveis. A Iniciativa de Alertas Precoces da ONU, por exemplo, pretende cobrir toda a população global até 2027, mas para que essa meta seja atingida, são necessários investimentos financeiros significativos.

Emergência Climática e COP29

Com a aproximação da COP29, a conferência internacional sobre mudanças climáticas, Guterres pressionou os países para que apresentem planos de ação climática mais ambiciosos e alinhados com a realidade atual. Ele destacou que o sucesso da conferência depende de um resultado financeiro sólido, especialmente em termos de novas fontes de capital para financiar a transição energética e adaptação climática.

O aumento do nível do mar é uma das provas mais visíveis e destrutivas da emergência climática que o mundo enfrenta. Como Guterres afirmou, "apenas uma ação drástica para reduzir as emissões pode limitar o aumento do nível do mar", e o tempo para agir está se esgotando.

Os olhos do mundo estarão voltados para a COP29, esperando que líderes globais se comprometam com ações concretas para mitigar os impactos catastróficos que já estão sendo sentidos ao redor do globo. Enquanto isso, a realidade das mudanças climáticas continua a bater à porta de milhões de pessoas que vivem à beira das águas.

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