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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Vinícius de Moraes: 'Poema de Natal'

"Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra.  Assim será a nossa vida:  Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos -   Por isso precisamos velar   Falar baixo, pisar leve, ver   A noite dormir em silêncio. Não há muito que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez, de amor   Uma prece por quem se vai —   Mas que essa hora não esqueça   E por ela os nossos corações   Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente." - Vinicius de Moraes

“Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses 

Mãos para colher o que foi dado 

Dedos para cavar a terra. 


Assim será a nossa vida: 


Uma tarde sempre a esquecer 

Uma estrela a se apagar na treva 

Um caminho entre dois túmulos - 

Por isso precisamos velar 

Falar baixo, pisar leve, ver 

A noite dormir em silêncio. 


Não há muito que dizer: 


Uma canção sobre um berço 

Um verso, talvez, de amor 

Uma prece por quem se vai — 

Mas que essa hora não esqueça 

E por ela os nossos corações 

Se deixem, graves e simples. 


Pois para isso fomos feitos: 

Para a esperança no milagre 

Para a participação da poesia 

Para ver a face da morte — 

De repente nunca mais esperaremos... 

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas 

Nascemos, imensamente.


"Poema de Natal", de Vinicius de Moraes. Publicado no livro "Poemas, sonetos e baladas", em 1946



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