"Durante uma era glacial muito remota, quando parte do globo terrestre estava coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram, indefesos, por não se adaptarem às condições de clima hostil. Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, ajuntar-se mais e mais.
Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso.
Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começam a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor vital, questão de vida ou morte.
E afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se por não suportar mais tempo os espinhos de seus semelhantes.
Doíam muito…
Mas essa não foi a melhor solução. Afastados, separados, logo começaram a morrer.
Os que não morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precauções, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar nenhum dano recíproco.
Assim suportaram-se resistindo à era glacial.
Sobreviveram..."
Nota: A Fábula da Convivência, é de autoria desconhecida, foi adaptada da metáfora “O dilema do porco-espinho” do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) para ilustrar o problema da convivência humana.
Schopenhauer expôs esse conceito em forma de parábola na sua obra ‘Parerga und Paralipomena’, publicada em 1851, onde reuniu várias de suas polêmicas anotações filosóficas. O dilema do porco-espinho é apenas um parágrafo que surge no Volume II desta obra, no entanto, tornou-se um conto popular com inúmeras versões, citado até mesmo por Sigmund Freud, o pai da psicanálise.
Excerto de Schopenhauer:
“Uma sociedade de porcos-espinhos se juntou em um frio dia de inverno e para evitar o congelamento procuraram se esquentar mutuamente. Contudo, logo sentiram os espinhos uns dos outros, o que os fez voltarem a se separar. Quando a necessidade de calor os levou a aproximar-se outra vez, se repetiu aquele segundo mal; de modo que oscilaram de um lado para o outro entre ambos os sofrimentos até que encontraram uma distância média na qual puderam resistir melhor.”
– Arthur Schopenhauer, in “Parerga und Paralipomena”. Zurique: Haffmans, 2 vols, 1988, p. 559-60.
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