Em toda parte onde houve sociedade, autoridades, religiões, opiniões públicas poderosas, em resumo, em toda parte onde houve uma tirania, ela perseguiu com ódio o filósofo solitário, pois, a filosofia oferece ao homem um asilo onde nenhuma tirania pode penetrar, o foro íntimo, o labirinto do coração; e é isso o que indispõe os tiranos.
É o refúgio dos solitários, mas é ali também que o maior dos perigos os espia. Esses homens que abrigaram sua liberdade no fundo de si mesmos são obrigados a ter uma vida exterior, a se mostrar, a se deixar ver; pelo fato de seu nascimento, de seu domicílio, de sua educação, de sua pátria, do acaso, da indiscrição dos outros, eles se veem empenhados em inúmeras relações humanas; a eles é conferida toda espécie de opiniões, pelo simples fato de que são opiniões reinantes; toda expressão fisionômica que não for negativa passa como aprovação; todo gesto que não destrói nada é interpretado como adesão.
Sabem muito bem, esses solitários de espírito livre, que parecem constantemente, de uma maneira ou de outra, aquilo que realmente são; quando pretendem senão ser verdadeiros e sinceros, em torno deles é tecida uma rede de mal-entendidos; a descrição de seu violento desejo, sentem passar sobre seus atos um vapor de opiniões falsas, de acomodações, de meias concessões, de silêncios complacentes, de interpretações errôneas. É isso que acumula em sua fronte uma nuvem de melancolia, pois, semelhantes naturezas odeiam mais que a morte a necessidade de fingir.
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Fonte: *Friedrich Wilhelm Nietzsche, in Schopenhauer O Educador, pág. 37 - primeiro capítulo - Imagem: Obra de Blemished.
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