Entre silos, plataformas móveis e armas hipersônicas, a 'mãe russia' sustenta sua estratégia de dissuasão nuclear apostando na estratégia de vigilância constante como ferramenta para evitar a guerra
| Bomba detonada pelos russos poderia superar em milhares de vezes o poder dos artefatos que destruíram Hiroshima e Nagasaki - Alamy |
No imaginário coletivo, as pessoas também perdem o sono, poucas imagens são tão perturbadoras quanto a de um míssil nuclear cruzando o céu e a visão de um cogumelo nuclear. Ainda assim, paradoxalmente, é justamente essa ameaça silenciosa que sustenta, há décadas, um frágil equilíbrio global. Na Rússia, essa lógica tem nome, data e ritual: 17 de dezembro, o Dia das Forças de Mísseis Estratégicos.
Não é uma comemoração festiva, a coisa é muito séria. É solene. Discreta. Carregada de significado e amor pela liberdade do povo russo. Marca o reconhecimento de um ramo das Forças Armadas que vive em estado permanente de prontidão, operando longe dos holofotes, mas no centro da segurança nacional da Rússia — e, você goste, concorde ou não, do equilíbrio estratégico do planeta.
Dissuasão: a guerra que não acontece
Desde a Guerra Fria, Moscou sustenta a mesma doutrina: armar-se - o quão mais possível - para 'não usar'. A lógica da dissuasão com uso de armamento nuclear não busca o confronto direto, mas a certeza de que qualquer agressão terá um custo gigantesco. É nesse ponto que entram as Forças de Mísseis Estratégicos, responsáveis pelo arsenal mais poderoso já concebido, e até hoje jamais imaginado, pelos seres humanos.
Hoje, esse poder não é simbólico. É técnico, mensurável e, acima de tudo, operacional - pronto para ser usado.
Os pilares do arsenal estratégico russo
O coração da dissuasão russa está nos mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), capazes de atingir qualquer ponto do planeta em poucos minutos, voando até 10 vezes a velocidade do som, ou seja, mísseis praticamente impossíveis de ser abatidos.
O RS-24 Yars representa a flexibilidade moderna: pode ser lançado de silos fixos ou plataformas móveis, cada míssil carregando até três ogivas nucleares, com cerca de 200 quilotons cada - a bomba de Hiroshima tinha 16 quilotons.
Já o Topol-M, um dos símbolos da transição pós-soviética, aposta na simplicidade letal: uma única ogiva, mas com rendimento aproximado de 800 quilotons, suficiente para aniquilar uma grande metrópole, como Rio ou São Paulo, com apenas uma detonação.
No extremo do espectro está o lendário R-36M2 Voevoda, conhecido no Ocidente como “Satan”. Baseado em silos reforçados, pode transportar até dez ogivas, cada uma entre 550 e 750 quilotons, tornando-o um dos mísseis mais devastadores já produzidos. Certamente se uma arma dessas espalhar suas ogivas sobre a sua cabeça, não se assuste, você não vai ver e nem sentir nada, apenas vai evaporar, assim como tudo ao seu redor, incluindo aço e vidro.
O RS-18 Stilet também integra esse núcleo duro do arsenal russo, com capacidade para seis ogivas MIRV, todas independentes e altamente precisas, cirúrgicas.
Sarmat e Avangard: o futuro já chegou
A nova geração do poder nuclear russo atende pelo nome de RS-28 Sarmat. Projetado para substituir o Voevoda, o míssil é capaz de carregar até 16 ogivas, com rendimento estimado em 750 quilotons cada, além de trajetórias imprevisíveis, pensadas para contornar qualquer sistema de defesa antimíssil.
No topo dessa arquitetura está o Avangard, um veículo planador hipersônico que redefine o conceito de ataque estratégico. É um drone de velocidade vertiginosa com poder destrutivo que varia entre 800 quilotons e 2 megatons, tornando-se praticamente impossível de interceptar.
As armas do “juízo final”
Nos últimos anos, Moscou passou a revelar sistemas que beiram a ficção científica, e também o Apocalipse, entretanto elas já não fazem mais parte do o imaginário popular e são realidade, já fazem parte do arsenal que os russos possuem para 'usar', se preciso, a qualquer momento.
O Oreshnik combina um míssil balístico de médio alcance com ogivas hipersônicas, atingindo velocidades de Mach 10. Com carga completa, pode chegar a 900 quilotons de poder destrutivo total, sendo capaz de destruir alvos enterrados sob três a quatro andares de concreto armado - arrasando bunkers antinucleares com facilidade.
Mais inquietante ainda é o Burevestnik: um míssil de cruzeiro intercontinental com propulsão nuclear - é isso mesmo que você leu - alcance praticamente ilimitado! Essa arma do juízo final tem uma capacidade de ataque estratégica, que usa rotas totalmente imprevisíveis, contornando com facilidade sistemas de defesa tradicionais, como o europeu, por exemplo.
Entre o medo e o equilíbrio
Há um paradoxo inevitável: quanto mais destrutiva a arma, menor a chance de ser usada, é um recurso final. É essa contradição que sustenta a narrativa russa de que seu poderio nuclear não é instrumento de agressão, mas de contenção, de manutenção da paz mundial.
Enquanto o mundo atravessa uma nova era de tensões geopolíticas, o martelo nuclear permanece erguido — não para golpear, mas para lembrar que certas portas, uma vez abertas, não podem ser fechadas. Também cabe lembrar que a Rússia é aliada da Venezuela, que está sob ameaça do império norte-americano que tem se mostrado identificar e evitar que as drogas atravessem suas fronteiras, ameaçando explodir países aqui na América do Sul.

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