Muitos apoiadores da direita e extrema-direita brasileira sustentam o discurso bolsonarista em dogmas religiosos e na chamada “moral da família cristã”. Essa retórica, porém, parece também servir como cortina de fumaça, que uma parcela desse movimento usa para justificar o ranço da ditadura militar que carrega em si.
Um terço do eleitorado brasileiro transparente clara submissão política e econômica a países estrangeiros, carregando em si o preconceito estrutural que ainda marca a sociedade, mesmo que estejamos em pleno Século XXI.
Na última sexta-feira (12), durante o XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, em Portugal, o vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Paulo Jackson, foi preciso: o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe não apenas é necessário, como fortalece a democracia brasileira.
“Aconteceu praticamente a mesma coisa [nos Estados Unidos] e não houve julgamento nenhum”, comparou o arcebispo, ao citar a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Para ele, a decisão do Supremo Tribunal Federal reforça a legitimidade dos três poderes da República. “Mesmo tendo havido essa crise institucional, o país e as instituições saem reforçadas desse processo”, afirmou.
O religioso também destacou que a condenação de Bolsonaro e de outros envolvidos atuou como um freio diante do “núcleo central da tentativa de golpe militar”. A fala vinda de um bispo brasileiro, e ainda por cima em solo estrangeiro, desmonta o discurso de que apenas setores progressistas ou de esquerda defendem a responsabilização dos golpistas. Até parte do clero católico — historicamente conservador em muitas de suas pautas — reconhece que a democracia não pode ser relativizada.
Dom Paulo Jackson não se restringiu à política interna. Fez duras críticas às medidas comerciais impostas por Washington contra o Brasil desde 6 de agosto, quando o governo norte-americano anunciou tarifas adicionais sobre produtos brasileiros. Para ele, a soberania nacional precisa ser respeitada também no campo econômico, sem submissão a interesses estrangeiros.
Sobre o ambiente político interno, o vice-presidente da CNBB reconheceu que a polarização segue intensa, mas reforçou que a missão da Igreja é colaborar para “mitigar ou minimizar as consequências desses processos”, tendo o diálogo social como prioridade. É uma mensagem que ecoa entre os fiéis e também entre os que veem na religião uma ponte de pacificação e não um instrumento de divisão.
Ao reconhecer publicamente que o julgamento de Bolsonaro fortalece as instituições, Dom Paulo Jackson envia um recado que atravessa fronteiras: a democracia não pode ser refém de discursos autoritários, nem da manipulação da fé para fins políticos. O editorial do Sulpost acompanha essa reflexão, reafirmando que a justiça não se curva a mitos fabricados, mas se sustenta na verdade histórica e no compromisso com o futuro do Brasil.
Curitiba, 14 de setembro de 2025
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