quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Ilhas brasileiras podem receber título de refúgio de espécies únicas

Ilhas brasileiras podem dividir com Galápagos o título de refúgio de espécies únicas

Estudo publicado em 10 de setembro de 2025 revela endemismo massivo em Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo e Trindade — e propõe o conceito de “Endemismo Provincial-Insular”.

© Arquivo/Agência Brasil


Por muito tempo, quando se falava em ilhas que mudaram o modo como entendemos a vida, os olhos do mundo se voltavam para Galápagos: tartarugas gigantes, iguanas marinhas, aves que pareciam ter saído de um experimento da evolução. Hoje, essa história ganha uma nova página — escrita em alto-mar, nas rochas e recifes do Brasil..

Um estudo intitulado Escalas de Endemismo Marinho em Ilhas Oceânicas e o Endemismo Provincial-Insular, publicado em 10 de setembro de 2025 pela plataforma científica Peer Community Journal, apontou que as ilhas oceânicas brasileiras — entre elas Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo e Trindade — abrigam uma quantidade expressiva de espécies exclusivas e de grande relevância científica.

“Temos encontrado e descrito muitas novas espécies que são endêmicas, exclusivas das nossas ilhas. Isso mostra que as ilhas brasileiras têm uma importância mundial muito grande em relação à proporção dessas espécies”, diz o pesquisador Hudson Pinheiro, da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), líder do estudo.

O que o estudo revelou

A equipe, formada por pesquisadores de diversas partes do mundo, analisou mais de 7 mil espécies de peixes recifais em 87 ilhas espalhadas pelo planeta. Um dado chamou a atenção: cerca de 40% das espécies aparecem em mais de uma ilha da mesma região, mas não se distribuem pelo continente adjacente. Em outras palavras, há espécies que são exclusivas de um arquipélago ou conjunto insular — um padrão até então subvalorizado pela ciência.

Para traduzir essa realidade, os autores propõem o conceito de Endemismo Provincial-Insular — uma forma de reconhecer espécies que, embora não restritas a uma única ilha, são exclusivas de um grupo de ilhas vizinhas. Segundo Pinheiro, reconhecer esse padrão aumenta o reconhecimento científico e a atenção para locais que não tinham o mesmo prestígio de centros clássicos de endemismo.

Vulnerabilidade que exige urgência

As descobertas trazem orgulho, mas também um alerta. Ilhas oceânicas são espaços isolados, de difícil acesso e, por isso, historicamente menos estudadas do que a costa continental.

“As ilhas dependem de expedições científicas e acabam recebendo menos estudos. Existe o risco de espécies terem sido extintas antes mesmo de serem descobertas”, observa Pinheiro. As mudanças climáticas tornam esse cenário ainda mais grave: enquanto espécies continentais podem migrar para latitudes mais altas em busca de águas mais frias, as espécies insulares não têm para onde ir.

Cooperação que abriu portas

Os avanços descritos pelo estudo só foram possíveis graças a uma rede de apoio: a Marinha do Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e organizações da sociedade civil se uniram para viabilizar expedições e esforços de pesquisa.

“Revelar a riqueza do endemismo nas ilhas brasileiras reforça a urgência de proteger esse patrimônio. Não se trata apenas de evitar que a biodiversidade desapareça, mas de assegurar que o oceano continue a fornecer recursos, regular o clima e inspirar novas soluções para o futuro”, afirma Marion Silva, gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, uma das instituições que apoiou as pesquisas.

Outro marco recente foi a criação, pelo Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar), da primeira estação de mergulho científico mesofótico da América Latina — infraestrutura que habilitou pesquisadores a coletar dados e observar ambientes até 150 metros de profundidade, revelando espécies antes invisíveis.

Ilhas como bibliotecas vivas

Se Galápagos foi um laboratório para as grandes ideias da biologia evolutiva, as ilhas brasileiras aparecem agora como bibliotecas vivas cujas páginas ainda estão por ser lidas. Cada nova espécie descrita é um capítulo que amplia nosso entendimento dos processos evolutivos e ecológicos — e cada perda, por ausência de conhecimento ou proteção, é uma página arrancada.

A missão é clara e coletiva: ampliar os olhos da ciência sobre esses territórios, fortalecer a cooperação institucional e criar políticas de proteção que acompanhem a fragilidade insular. Conhecer para preservar — e preservar para que o conhecimento continue a florescer.

📌 Com informações da Agência Brasil.

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