terça-feira, 3 de junho de 2025

Adaptação climática vira ativo estratégico

Adaptação climática vira ativo estratégico: estudo revela retorno de 10 para 1 e BNDES aposta no mercado que já movimenta trilhões

Por Redação Sulpost*

 
 

Imagine um investimento capaz de salvar vidas, proteger cidades, garantir empregos e ainda devolver, para cada dólar aplicado, outros dez em benefícios ao longo de uma década. Parece sonho — mas é ciência. Um estudo recém-divulgado pelo World Resources Institute (WRI) mostra que a adaptação climática pode ser não só um imperativo moral diante do aquecimento global, mas também uma estratégia econômica das mais rentáveis. E o Brasil, aos poucos, já começa a surfar essa onda com o apoio do BNDES.

A pesquisa analisou 320 iniciativas em 12 países, com um total de US$ 133 bilhões em investimentos. O potencial de retorno ultrapassa US$ 1,4 trilhão em dez anos — um verdadeiro tesouro escondido sob camadas de lama, seca, maré alta e calor extremo. E o mais impressionante: metade dos ganhos econômicos previstos se concretiza mesmo que nenhuma catástrofe ocorra.

“Os projetos de adaptação não precisam de desastres para gerar valor. Eles produzem benefícios todos os dias: mais empregos, mais saúde e economias locais mais fortes”, afirma Carter Brandon, pesquisador sênior do WRI. Em outras palavras, proteger é também desenvolver.

Três dividendos e um caminho

O estudo se baseia no conceito do “triplo dividendo da resiliência” (TDR, na sigla em inglês): perdas evitadas, ganhos econômicos e benefícios socioambientais. Em exemplos práticos, isso significa que proteger uma área costeira contra a erosão também garante a manutenção de habitats marinhos, lazer para a população e renda para pescadores.

Em certos setores, como o da saúde, o retorno pode ser ainda mais expressivo: os ganhos chegam a ultrapassar 78%. Ainda assim, apenas 8% das avaliações econômicas de projetos de adaptação medem de fato o valor financeiro de seus benefícios. Um sinal, segundo o estudo, de que falta ao mercado uma metodologia clara para calcular o valor da resiliência.

Sam Mugume Koojo, co-presidente da Coalizão de Ministros das Finanças para Ação Climática, vai direto ao ponto: “É hora de os líderes reconhecerem que a adaptação climática não é apenas uma rede de segurança, mas uma plataforma para o desenvolvimento.”

Um mercado que já move trilhões

Com o aquecimento global impondo novos desafios aos governos e às populações, o setor de adaptação ganha tração nos mercados. Um levantamento da Climate Policy Initiative apontou que 90% das iniciativas atuais ainda dependem de recursos públicos — mas o cenário pode estar prestes a mudar.

“Essas evidências fornecem aos atores não estatais exatamente o que precisam no caminho para a COP30: um argumento econômico claro para dar escala na adaptação”, destaca Dan Ioschpe, campeão de alto nível da Conferência da ONU sobre o Clima, que será realizada este ano em Belém (PA). O evento deve marcar um divisor de águas nas finanças climáticas, especialmente no Sul Global.

Ioschpe lembra que 2025 é um ano crucial para incluir a resiliência climática como prioridade nos planos nacionais. “Investir em adaptação é, também, destravar potencial de crescimento sustentável. É proteger hoje para prosperar amanhã.”

BNDES aposta no Brasil resiliente

No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já se posiciona como protagonista nessa transformação. Em junho, a instituição lançou um edital de R$ 43 milhões para proteção de recifes de corais e ilhas oceânicas — ecossistemas vitais e altamente vulneráveis às mudanças climáticas.

Além disso, o BNDES prepara o lançamento de blue bonds — títulos de dívida voltados à preservação dos oceanos — com foco na chamada economia azul. É uma inovação que dialoga com o mercado internacional de títulos sustentáveis e pode atrair capital privado para soluções de adaptação costeira.

“Estamos vivendo a transição de um modelo de financiamento baseado em perdas para uma visão de oportunidades”, disse em nota a presidência do banco. A ideia é ampliar a escala de investimentos que protejam populações vulneráveis e, ao mesmo tempo, gerem valor econômico.

Belém e o futuro

A COP30, marcada para novembro em Belém, deve colocar a adaptação climática no centro do debate global. Pela primeira vez, a agenda da resiliência chega munida de números sólidos, metodologia clara e apoio crescente de atores públicos e privados.

É também uma chance única para o Brasil demonstrar liderança. Com seu território diverso, desafios ambientais complexos e um dos maiores bancos de fomento do mundo engajado, o país tem tudo para ser referência em desenvolvimento resiliente.

Na equação climática do futuro, investir em adaptação não é mais um custo. É uma oportunidade — e das mais rentáveis.

“Uma boa adaptação é também um bom desenvolvimento.”

Trecho do relatório Global Landscape of Climate Finance 2024: Insights for COP29

*com informações da Agência Brasil.

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