quarta-feira, 4 de junho de 2025

PGR pede prisão preventiva de Carla Zambelli após fuga para o exterior

FUGA ANUNCIADA: Carla Zambelli se exila após condenação, e Justiça pede sua prisão

Por Ronald Stresser, para o Sulpost

 
A deputada federal Carla Zambelli. Foto: Lula Marques/EBC
 

“Não é desistir do país, é resistir.” Com essa frase, Carla Zambelli, deputada federal pelo PL de São Paulo, anunciou sua saída do Brasil, dias após ser condenada a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal. No mesmo tom desafiador que marcou sua atuação política desde os tempos de lavajatismo inflamado, Zambelli cruzou a fronteira com a Argentina no dia 25 de maio e voou para os Estados Unidos. De lá, pretende seguir para a Itália, onde diz que buscará refúgio sob a proteção de sua cidadania europeia.

A Procuradoria-Geral da República (PGR), no entanto, não viu na viagem um simples afastamento para tratamento médico, como alegado pela parlamentar em um vídeo publicado no YouTube. Nesta segunda-feira (3), a PGR protocolou pedido de prisão preventiva, considerando a fuga deliberada como um ato de obstrução da Justiça. O STF acompanha o caso com atenção redobrada. Para uma advogada constitucionalista,  ouvida pelo Sulpost em caráter reservado, o episódio expôe falhas no protocolo de vigilância de réus condenados com foro privilegiado.

“Exílio voluntário” ou estratégia?

Zambelli foi condenada por unanimidade pela Primeira Turma do STF por envolvimento na invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O caso, relacionado a ações do hacker Walter Delgatti Neto — que atuou sob orientação da deputada —, foi considerado grave o suficiente para lhe render também a inelegibilidade por oito anos. Ainda assim, sua permanência no cargo de deputada federal depende da manifestação da Câmara dos Deputados, que até agora permanece em silêncio. No site da Casa, Zambelli continua listada como parlamentar em exercício.

Em suas declarações públicas, ela afirma que a saída do país foi motivada por um problema de saúde não especificado. “Vou pedir afastamento do cargo”, disse, antes de afirmar que pretende viver na Europa. “Vou me basear na Europa. Tenho cidadania europeia, então estou muito tranquila em relação a isso.”

Mas entre aliados próximos, conforme revelou o blog da jornalista Malu Gaspar, o plano é mais ambicioso — e mais político. Zambelli pretende se instalar na Itália e repetir os passos de Eduardo Bolsonaro, que também teria planos de se distanciar do Brasil em meio ao cerco judicial à sua família. A ideia, segundo fontes, é fazer política de fora, no exílio, transformando-se em uma mártir do bolsonarismo internacionalizado.

Alerta à Justiça

A fuga da deputada acendeu um alerta no STF. De acordo com reportagem da CartaCapital, ministros começaram a discutir mudanças nos protocolos de segurança para casos semelhantes. A avaliação interna é de que houve falha institucional: Zambelli já tinha passaporte restituído, e não havia medidas cautelares ativas que a impedissem de deixar o país, mesmo com a condenação já proferida.

“É preciso repensar a forma como lidamos com parlamentares condenados”, disse à reportagem uma fonte ligada à cúpula do Judiciário. A possibilidade de novos foragidos no contexto de uma Justiça que depende da lentidão do trâmite legislativo para cassações definitivas preocupa o Supremo, que estuda sugerir um novo rito ao Congresso.

Câmara silente, bolha ruidosa

Enquanto isso, a Câmara dos Deputados, presidida por Hugo Motta (Rep-PB), ainda não se manifestou oficialmente sobre o destino do mandato de Zambelli. E, nas redes sociais, ela segue ativa, postando vídeos, mensagens e críticas ao que chama de “ditadura do Judiciário”.

“Estou voltando a ser a Carla de antes das amarras. Estou resistindo”, disse em outro trecho de sua declaração pública. Do outro lado do oceano, prepara o discurso de perseguida política, narrativa já testada e bem recebida em certos círculos da extrema direita global.

Para os críticos, a fuga representa o ápice de um projeto político baseado na confrontação constante com as instituições democráticas — um ciclo que, mesmo após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, continua produzindo rupturas e incertezas.

O que vem agora?

A decisão da Justiça sobre o pedido de prisão preventiva será um divisor de águas. Se o STF acatar a solicitação da PGR, Zambelli poderá ser considerada foragida internacional. Com cidadania italiana, pode pleitear abrigo na Europa, o que pode iniciar um impasse diplomático e jurídico de consequências imprevisíveis.

Enquanto isso, o Brasil observa, mais uma vez, uma representante eleita se transformar em símbolo do desgaste institucional. Não pelas ideias que defende, mas pelo desprezo aos limites legais que deveria respeitar como parlamentar da República.

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