quarta-feira, 16 de abril de 2025

Brasil reduz queimadas em 70% no início de 2025

Entre cinzas e esperança: Brasil reduz queimadas em 70% no início de 2025

Por Ronald Stresser*

 
Agentes da Polícia Federal investigam incêndio florestal - PF/Divulgação
 

No coração da floresta que já ardeu como um braseiro descontrolado, o silêncio agora tem o som da chuva. Nos primeiros três meses de 2025, o Brasil viveu um respiro. Um alívio raro em tempos de emergência climática: a área queimada no país caiu 70% em relação ao mesmo período do ano passado. 

Os dados vêm do Monitor do Fogo, ferramenta do MapBiomas que utiliza imagens de satélite para rastrear as cicatrizes deixadas pelas chamas. Em números absolutos, são 912,9 mil hectares consumidos entre janeiro e março deste ano — uma cifra ainda expressiva, mas significativamente menor do que os 2,1 milhões de hectares queimados no primeiro trimestre de 2024.

Choveu. E isso fez diferença

As chuvas, tão aguardadas e às vezes esquecidas nos debates técnicos, foram aliadas importantes na contenção do fogo. “A ocorrência do período de chuvas contribui para essa diminuição das queimadas”, explica Vera Arruda, pesquisadora do MapBiomas Fogo. Mas ela alerta: a queda nos números não significa que o perigo passou. Especialmente no Cerrado, onde o fogo continua deixando marcas profundas. O bioma viu um aumento de 12% nas áreas queimadas em relação ao mesmo período de 2024, totalizando 91,7 mil hectares, mais que o dobro da média histórica desde 2019.

“Cada bioma reage de forma diferente ao clima e às ações humanas. E cada um precisa de estratégias específicas de prevenção e combate”, reforça Vera.

Roraima: onde a seca ainda acende chamas

Se o Brasil como um todo respirou, Roraima ainda queima. Foi o estado mais atingido no primeiro trimestre, com 415,7 mil hectares tomados pelo fogo. As cidades de Pacaraima e Normandia encabeçam a lista dos municípios mais afetados. De acordo com Felipe Martenexen, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), isso se deve ao ciclo natural do estado: “Roraima vivencia sua estação seca no início do ano, o que torna o estado particularmente vulnerável.”

A Amazônia, apesar da queda de 72% em relação a 2024, continua liderando em área absoluta queimada: foram 774 mil hectares, o equivalente a 78% de todo o território atingido pelas chamas no país.

O retrato por bioma: entre retrocessos e avanços

Embora a tendência geral seja de redução, o Brasil segue lidando com um mosaico complexo. Enquanto o Pantanal viu uma redução de 86% nas áreas queimadas e a Caatinga teve 8% a menos que no ano passado, a Mata Atlântica e o Pampa registraram crescimentos de 7% e 1,4%, respectivamente.

Março, último mês do trimestre, trouxe o melhor desempenho: apenas 106,6 mil hectares queimados — uma queda de 86% em comparação com março de 2024. Um sinal promissor, mas que precisa ser lido com cautela.

Entre o que apaga e o que acende

A redução nas queimadas é, sem dúvida, um dado a ser celebrado. Mas ela não é um ponto de chegada. É um respiro em meio a um cenário que ainda exige atenção constante, fiscalização reforçada, políticas públicas eficazes e, sobretudo, compromisso ambiental de todos os setores.

A diretora de Ciência do Ipam, coordenadora do MapBiomas Fogo, resume com uma frase que soa como aviso: “A estação seca de 2025, que se aproxima, possivelmente ainda será forte, o que pode reverter essa condição de redução.”

Enquanto isso, a floresta espera. O Cerrado resiste. E o Brasil, entre cinzas e esperança, precisa decidir se essa curva descendente será um tropeço do fogo — ou o início de um novo ciclo.

*com informações da Agência Brasil.

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