quinta-feira, 20 de março de 2025

JFK e o peso de uma história que nunca será plenamente aceita

A nova leva de documentos reabre feridas, mas será que alguma verdade ainda pode mudar a forma como vemos aquele 22 de novembro?

Por Ronald Stresser

 
JFK acena do seu carro em Dallas momentos antes de seu assassinato em 1963.
  

Era um dia ensolarado em Dallas, no Texas. John F. Kennedy, ao lado da primeira-dama dos Estados Unidos, acenava para a multidão no banco de trás de um conversível, quando, de repente, o mundo mudou. O estrondo dos tiros rasgou a tarde texana. O sorriso do presidente congelou no tempo. Um instante que já dura mais de 60 anos — e que, apesar das investigações, dos livros, dos filmes e das teorias, jamais encontrou um ponto final.

O Arquivo Nacional dos Estados Unidos divulgou mais uma leva de documentos sobre o assassinato de JFK. Mais de seis décadas depois, a promessa de uma verdade, que satisfaça definitivamente a opinião pública, continua sendo um horizonte inalcançável. Mas por que isso acontece?

A resposta pode estar na própria essência humana. Não aceitamos que momentos históricos tão brutais possam ser explicados de maneira simples. Não queremos crer que um homem solitário, de uma janela do sexto andar, tenha conseguido ceifar a vida do líder do mundo livre. E, diante desse desconforto, preenchemos as lacunas com histórias.

Conspiração ou medo de encarar a realidade?

De todas as teorias sobre o assassinato de Kennedy, algumas se tornaram quase folclóricas. Há quem diga que a CIA tramou tudo. Que a máfia cobrou uma dívida de campanha. Que Lyndon Johnson tinha um plano para assumir a presidência. E há até quem acredite que o próprio motorista do carro presidencial puxou o gatilho, em um ato desesperado e encoberto pelos agentes do governo.

Mas uma das versões mais chocantes e inusitadas sugere que a primeira-dama,  Jack Kennedy — encoberta por um dos agentes que acompanhavam a comitiva presidencial —, teria puxado uma arma de trás do banco e disparado contra a cabeça do proprio marido, e, logo em seguida, entregado a pistola para um agente que corria atrás do carro. Tudo isso teria sido acobertado pelo Estado.

Soa absurdo? Talvez. Mas essa é apenas mais uma peça no grande quebra-cabeça de desconfiança que se formou em torno da tragédia.

Os números da dúvida

Os americanos nunca engoliram a versão oficial. Uma pesquisa realizada em 2023, pelo instituto YouGov, revelou que 54% da população acredita que Lee Harvey Oswald não agiu sozinho. Outros 24% não souberam opinar. Apenas 23% aceitam a explicação mais simples: a de que um jovem frustrado e simpatizante do comunismo, armado com um rifle, mudou a história agindo sozinho.

E, sejamos sinceros, o próprio governo ajudou a alimentar essa descrença e todas as teorias da conspiração decorrentes. Por décadas, documentos foram mantidos sob sigilo, reforçando a ideia de que real.ente sempre houve algo a esconder. Agora que os arquivos foram liberados, o que se vê é uma avalanche de informações desconexas — relatórios de inteligência, escutas telefônicas, investigações de agentes estrangeiros — mas nenhuma resposta definitiva.

A cada página, surgem novas perguntas. Como explicar que um dos arquivos menciona que, antes do assassinato, a KGB já investigava Oswald? Por que há tantos trechos classificados e ocultos? O que exatamente os serviços de inteligência sabiam.

A busca por sentido

O problema das conspirações é que elas nunca terminam. Elas apenas se multiplicam. Quando um detalhe é desmentido, outro toma o seu lugar. Se nada nos arquivos comprova um plano secreto, os teóricos dirão que os documentos mais comprometedores foram destruídos. Se um agente aparece nas imagens parecendo agir de maneira suspeita, ele se torna automaticamente uma peça do "grande esquema".

Isso não é novo. O filme JFK (1991), de Oliver Stone, popularizou a ideia de que o assassinato foi uma conspiração gigantesca, envolvendo militares, CIA, FBI, Johnson, a máfia e grupos anti-Castro. Mas, se tudo foi um grande plano, por que ninguém jamais confessou? Como centenas de pessoas manteriam esse segredo por tanto tempo?

E se nunca houver uma resposta?

Talvez, a verdade mais difícil de aceitar seja justamente essa: algumas histórias nunca terão uma resposta única e definitiva. O assassinato de Kennedy deixou uma cicatriz profunda, não apenas nos Estados Unidos, mas no próprio conceito de confiança que temos nas instituições.

Nos tempos de redes sociais e desinformação desenfreada, cada nova peça de informação se torna combustível para teorias ainda mais mirabolantes. Influenciadores se aproveitam do fascínio pelo mistério para espalhar narrativas que reforçam suspeitas, mas raramente trazem qualquer compromisso com a história.

E assim seguimos, em um ciclo eterno de perguntas sem respostas. Talvez, mesmo se uma fita de vídeo perfeita surgisse, mostrando com clareza cada segundo do que aconteceu naquele 22 de novembro de 1963, ainda haveria quem dissesse que as imagens foram manipuladas.

No fim das contas, não é sobre descobrir a verdade. É sobre nunca parar de procurá-la.

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