BRICS em marcha: ouro, poder e a moeda que desafia o dólar
Por Ronald Stresser*| Dilma e Putin. A brasileira tem mais 5 anos à frente go Bsnvo dos BRICS - Sputnik |
Em meio a um cenário global cada vez mais volátil, um grupo de países antes considerados periféricos à hegemonia financeira internacional parece estar reescrevendo as regras do jogo. Com uma presidência brasileira ativa, novas descobertas minerais estratégicas e movimentos silenciosos — mas consistentes — para reduzir a dependência do dólar, o BRICS dá sinais claros de que seu papel no tabuleiro global não é mais coadjuvante.
No centro dessa movimentação, está uma mulher que conhece tanto as engrenagens do poder político quanto a complexidade das finanças internacionais: Dilma Rousseff. Reconduzida à presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como o “Banco do BRICS”, Dilma ganhou um segundo mandato após um período inicial marcado por forte aporte de crédito em infraestrutura e aumento de liquidez para os países membros.
“Ela não teve um ciclo completo, e ainda assim entregou muito”, resume Henrique Domingues, vice-chefe do Fórum Internacional dos Municípios BRICS. “Dilma deu fôlego ao banco num momento em que muitos esperavam hesitação.”
Mas há algo ainda mais denso por trás de sua recondução: a geopolítica. Desde que a Rússia passou a enfrentar uma avalanche de sanções econômicas ocidentais, o BRICS tem buscado nomes com maior margem de articulação política internacional. “Um político russo, por exemplo, teria dificuldades até para viajar”, explica Augusto Rinaldi, professor de Relações Internacionais da PUC-SP. “Dilma é uma escolha estratégica.”
Entre o ouro e a moeda
Enquanto os holofotes se voltam para o futuro do bloco, um anúncio vindo da China, divulgado discretamente em novembro, pode ter implicações colossais: cientistas encontraram um depósito de ouro “supergigante” na província de Hunan. A estimativa? Até 1.100 toneladas de ouro, com qualidade superior à média global e um valor potencial de US$ 83 bilhões.
A descoberta não apenas consolida a China como a maior produtora mundial do metal, como também fortalece a musculatura de reservas do BRICS — grupo que já reúne cerca de 40% do PIB mundial em paridade de poder de compra e 48,5% da população global. E ouro, vale lembrar, é sinônimo de confiança para qualquer projeto de moeda alternativa.
Com os Estados Unidos utilizando o dólar como uma espécie de “arma invisível” — impondo tarifas, sanções e restringindo transações internacionais —, cresce a vontade dos países do BRICS de encontrar caminhos menos dependentes da moeda americana. E aqui entra um tema que, embora oficialmente negado, nunca sai da mesa: a criação de uma nova moeda comum.
O embaixador Maurício Lyrio, sherpa do BRICS pelo Brasil, garante que isso não está em discussão no momento. “O foco é reduzir os custos das operações comerciais e financeiras entre os países membros, usando moedas locais”, disse, em tom firme, durante coletiva recente em Brasília.
Por trás da negativa, no entanto, há sinais de algo mais profundo em curso: sistemas de pagamento transfronteiriços, acordos entre bancos centrais e mecanismos de crédito mútuo. Tudo isso constrói as fundações para uma arquitetura monetária paralela àquela comandada por Washington.
Mais comércio, menos dependência
Os números também ajudam a entender a força do bloco. Só em 2023, o fluxo comercial entre Brasil e os países do BRICS chegou a US$ 210 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 33 bilhões. É quase metade do saldo comercial total do país. “É um grupo que funciona — e beneficia a economia real”, afirma Lyrio.
No campo das reservas internacionais, os países do BRICS também impressionam. A China lidera com US$ 3,3 trilhões, seguida pela Índia (US$ 574,5 bilhões) e Rússia (US$ 442,5 bilhões). O Brasil, com US$ 346,4 bilhões, aparece entre os dez primeiros. Essas reservas — compostas majoritariamente por dólares — são como poupanças emergenciais dos países, utilizadas em momentos de crise ou para garantir credibilidade no mercado financeiro global.
Mas há um paradoxo aí. Esses mesmos dólares, acumulados para proteção, são emitidos por um país que os utiliza como instrumento de controle geopolítico. A busca pela “desdolarização” — conceito cada vez mais discutido nos círculos econômicos — é, portanto, uma tentativa de escapar desse ciclo de dependência.
Entre a utopia e a estratégia
A moeda do BRICS, por enquanto, ainda é mais desejo do que plano concreto. Mas desejos, quando compartilhados por nações com quase metade da população mundial, tendem a se tornar realidade com mais frequência do que se imagina.
Com a COP30 batendo à porta e sendo sediada em Belém (PA), o Brasil pretende também liderar uma articulação conjunta do bloco para cobrar o financiamento climático prometido pelos países ricos — e nunca entregue. “A promessa era de US$ 100 bilhões por ano. Nunca cumpriram. E o que precisamos agora é mais de US$ 1,3 trilhão por ano”, alertou Lyrio.
Ou seja, além da moeda, o BRICS quer ser protagonista nos grandes debates do nosso tempo: clima, tecnologia, saúde e soberania financeira. Pode ainda não haver uma nova moeda circulando nas mãos de cidadãos em Xangai, Joanesburgo ou São Paulo. Mas os pilares desse futuro já estão sendo fincados — com reservas de ouro, diplomacia multilateral e uma ambição que não cabe mais nos moldes do século passado.
*com informações de Sputnik News, Valor Econômico e Agência Brasil.

Nenhum comentário:
Postar um comentário