Benefícios e desafios do retorno do horário de verão: economia ou desconforto?
FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL |
O Brasil se prepara para adotar novamente o horário de verão a partir de outubro, e essa decisão tem gerado debate sobre seus potenciais impactos, tanto positivos quanto negativos, no setor energético e na sociedade. Com base em um relatório técnico do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entregue ao Ministério de Minas e Energia (MME), a medida trará diferentes efeitos ao longo dos meses.
Redução de picos de demanda e menor uso de termelétricas
O principal benefício apontado pelo estudo do ONS é a suavização da demanda por energia no horário de pico, especialmente em outubro, quando a redução estimada é de 2,9%. Isso ocorre porque o horário de verão desloca o consumo para horários de maior disponibilidade de luz natural, o que diminui a necessidade de ativação das usinas termelétricas, conhecidas por seu custo elevado e impacto ambiental. Ao final do dia, momento em que há menor geração de energia solar e eólica, o sistema de energia demanda mais das termelétricas, mas com o horário de verão, esse pico é diluído.
Nos meses seguintes, no entanto, o impacto diminui: em novembro, a redução será de 2,5%, e em dezembro, de 1,4%. Curiosamente, em janeiro, o estudo prevê um leve aumento de 0,1% na demanda de energia, seguido por nova retração de 0,2% em fevereiro. Essas variações ocorrem em diferentes subsistemas do país, como o subsistema Sul, que pode apresentar aumento de demanda em dezembro, janeiro e fevereiro, sugerindo que os efeitos do horário de verão não são uniformes em todo o território nacional.
Tarifação e economia
A economia financeira resultante da menor necessidade de acionamento de termelétricas é significativa. O ONS estima uma economia que varia de R$ 244 milhões a R$ 356 milhões entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025, dependendo das condições dos reservatórios hidrelétricos. Essa economia ajuda a aliviar o custo da energia para os consumidores, já que as termelétricas mais caras impactam diretamente nas tarifas, como demonstrado pela vigência da bandeira tarifária vermelha, nível 2, que eleva o custo da energia.
Desafios e críticas
Apesar dos benefícios, os críticos do horário de verão levantam algumas questões importantes. Um dos principais argumentos é que o perfil de consumo de energia mudou nos últimos anos, e o pico de demanda hoje ocorre mais cedo, entre 14h e 16h, quando a geração de energia solar está no ápice. Nesse sentido, o impacto positivo do horário de verão na redução do consumo durante a noite pode ser questionado, visto que a geração solar à tarde já atende grande parte da demanda. Além disso, o estudo mostra que, em alguns meses, como janeiro, o horário de verão pode até aumentar a demanda em determinadas regiões.
Outro ponto de discussão é a percepção de que a medida pode gerar desconforto para parte da população, especialmente aqueles que trabalham em horários rígidos, já que o adiantamento do relógio altera os ciclos de sono e as rotinas diárias. Apesar de ser uma questão mais subjetiva, o impacto sobre o bem-estar e a produtividade das pessoas também deve ser considerado.
A caminho da sustentabilidade energética?
Ao adotar o horário de verão, o Brasil também avança em sua estratégia de otimização do uso de energia limpa e renovável. A diminuição da dependência de termelétricas contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e pode ser vista como um passo em direção à sustentabilidade, em linha com as metas do Acordo de Paris.
No entanto, a questão central permanece: será que os benefícios superam os desafios? Especialistas afirmam que a segurança energética do país está garantida, mesmo diante de eventuais crises hídricas, e que a retomada do horário de verão pode, de fato, contribuir para uma gestão mais eficiente do setor energético. Por outro lado, o impacto variado em diferentes regiões e a mudança nos hábitos de consumo de energia levantam dúvidas sobre a real eficácia da medida.
Tradicionalmente, o horário de verão começa no primeiro domingo de novembro, a partir das 00h, seguindo a recomendação do Decreto nº 6.558, mas ainda não há uma decisão oficial sobre o retorno do horário de verão em 2024. Hoje a ANEEL anunciou o aumento da tarifa de energia elétrica, com a bandeira vermelha patamar 2, o que significa uma tarifação extra de mais R$7,87 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
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