Por outro lado no longo prazo, os métodos orgânicos de produção, ao equilibrar o meio ambiente e trabalhar de modo harmônico e convergente em relação ao tempo, ritmo, ciclos e limites da natureza, tende a reduzir substancialmente seus custos, podendo até mesmo competir com o agroquímico em termos de produtividade e resultados econômicos, sem entretanto apresentar os aspectos negativos já conhecidos desse sistema de produção. Em produtos para os quais as dificuldades para a produção orgânica já estão totalmente equacionadas, como no das folhosas, os preços chegam a ser mais baixos do que o dos produto convencionais, enquanto que para outros como, tomate, batata e morango ainda persistem dificuldades técnicas, principalmente pela quase total ausência de pesquisas nesse campo.
Todo processo de produção agrícola, obrigatoriamente interfere com a natureza. Entretanto pode haver em relação a esse fato inexorável, dois tipos de posição: uma primeira, mais tradicional e dominante ( própria dos agricultores "modernos" ), é a de considerar que a natureza tem que ser dominada, e para tanto utiliza-se qualquer meio disponível para destruir o mato, os insetos, fungos e qualquer outro predador que ameace suas atividades agrícolas. A natureza é simplesmente considerada um obstáculo à produção, e portanto idealmente, deve ser dominada e se possível eliminada como variável na produção agrícola.
As metas do desenvolvimento agrícola e as tecnologias tradicionais tem por base esse pressuposto teórico. É uma agricultura feita por agricultores que tem pressa, que não prestam atenção no que está acontecendo a seu redor quando promovem o processo de produção. Querem, e impõem os seus tempos e espaços. Buscam reduzir os ciclos naturais de desenvolvimento de plantas e animais com a mais absoluta "certeza", de que não haverá conseqüência alguma em termos ecológicos. Tudo é considerado válido, desde que esteja dentro dos cânones da racionalidade econômica que "garanta" maiores lucros e menos trabalho. Não há limites naturais e/ou éticos estabelecidos.
Daí chega-se rapidamente à hidroponía (nutrição artificial de plantas em soluções químicas "perfeitamente" balanceadas, sem solo, sem a luz natural do Sol). Essa agricultura busca primordialmente, não importa a que custo social ou ambiental, os processos mais simples e economicamente racionais de produzir. Apesar de "desprezar" as plantas e animais como seres ( vêem-nas apenas como coisas, pés, números, cabeças ou hectares ), alimentam - as ou nutrem - nas mecanicamente e se dispõem a adotar qualquer tipo de semente, muda ou animais de criação geneticamente modificados, desde que aumentem a produtividade e os lucros. Não considera sequer a possibilidade da ocorrência de efeitos colaterais desses avanços tecnológicos.
A maior produtividade como decorrência do domínio da racionalidade econômica, tem sido buscada pelas pesquisas da ciência normal e apresentada nas últimas décadas, como uma "panacéia" para todos os males da agricultura e do abastecimento alimentar. O tempo entretanto, encarregou-se de demonstrar a falsidade desse argumento pois a maioria dos agricultores continuou com os mesmos problemas e as crises se sucedem, enquanto as agro-indústrias produtoras de insumos "modernos" (responsáveis pela viabilização da poluição) e processadora de matéria prima, enriqueceram enormemente no mesmo período.
Esse tipo de agricultura e agricultor leva em consideração apenas o presente, sem qualquer consciência dos males que causam ao meio ambiente ou então fazem de conta, de que na natureza não ocorrem processos complexos e inter-relacionados. Reduzem tudo, a esquemas ou modelos simplificados e consideram-se modernos. E para que essas idéias dominem o imaginário dos agricultores e da opinião pública, toda uma estrutura comercial e de publicidade as reforçam. Por outro lado a estrutura institucional de pesquisa e extensão mantida pelo Estado, tem se apresentado fortemente comprometida e dirigida para a validação cientifica desse modelo, de modo a convencer técnicos e público em geral, reafirmando essa verdadeira ideologia que conforma o pensamento dominante entre os agricultores que denominamos convencionais, por seguirem as "normas" ou procedimentos "corretos", "modernos", "não atrasados".
Uma segunda posição, é a do agricultor orgânico, que considera a natureza sua aliada, amiga, observa-a, e está sempre apreendendo com ela, respeita seu tempo, suas limitações de solo, água, clima, etc. Percebe as inter-relações que existem entre todos os elementos que compõem o meio ambiente. Enfrentando as dificuldades, impostas pelos limites naturais e éticos em relação a esse processo de produção, este agricultor, com satisfação e acreditando na proposta, procura produzir economicamente, mas acompanhando e respeitando o ritmo da natureza atuando e procurando encontrar um máximo de equilíbrio com a mesma.
Entre essas duas concepções ou maneiras de produzir, o principal divisor de águas, é representado pelo fato de que, a agricultura orgânica leva em consideração outras racionalidades além da econômica, ao passo que na agricultura convencional, essa última é a única admissível. No sistema orgânico, muitas vezes a racionalidade econômica não pode ser prioritária, como ocorre por exemplo, no caso da necessidade de preservação de outras espécies, qualidade da água, recuperação da vida microbiológica do solo e de sua estrutura.
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Fonte: Richard Domingues Dulley | Vice-presidente da AAO (Associação de Agricultura Orgânica) e pesquisador do IEA (Instituto de Economia Agrícola) - via Planeta Orgânico (reprodução)
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