sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Queimadas aumentam risco de acidentes nas estrada

Queimadas voltam a assombrar o Brasil: Cerrado é o mais atingido e estradas se transformam em risco para motoristas

Por Ronald Stresser — Sulpost

As primeiras labaredas quase sempre surgem discretas — um fósforo atirado, um galho seco, uma fagulha arrancada pelo vento. Em minutos, porém, a fumaça já se estende no horizonte e o dia ganha um tom cinza-amarelado. Em 2025, o Brasil volta a conviver com esse filme repetido: o fogo está mais uma vez cobrindo florestas, pastagens e as margens das rodovias, e o Cerrado é o bioma mais castigado.

Corpo de Bombeiros atende incêndio florestal no Paraná - Foto: CBMPR
 

Números que doem

Entre janeiro e agosto de 2025, foram 186.502 quilômetros quadrados atingidos pelo fogo — número que coloca este ano como o quinto com maior área queimada desde 2003, início da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Do total, 119.243 km² (64%) ocorreram no Cerrado, o bioma que celebra seu dia nacional em 11 de setembro e que, mais uma vez, lidera o ranking da destruição.

Há um paradoxo cruel nos dados: apesar de o número de focos ter caído — de 167.452 em 2024 para 57.676 até 10 de setembro de 2025 (uma redução de 65%) — a área queimada no Cerrado aumentou, passando de 106.677 km² em 2024 para mais de 119 mil km² em 2025. Ou seja: menos ignições, mas incêndios mais intensos e com maior capacidade de devastação.

O clima como pressa e a paisagem como vítima

As cartas meteorológicas trazem alertas repetidos desde meados de agosto. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou episódios de baixa umidade que se estendem do Paraná até o Tocantins — regiões que concentram grande parcela do Cerrado — e mantém avisos válidos que elevam o risco de início e rápida propagação de incêndios.

Em São Paulo, a Defesa Civil emitiu o quarto alerta do ano — o terceiro em poucos dias — e atingiu 511 dos 645 municípios do estado. A mensagem enviada à população foi direta: “Perigo! Umidade do ar em nível crítico. Alto risco de incêndios florestais. Beba água e NÃO faça queimadas”. Em Descalvado, a umidade relativa do ar chegou a 4%, um índice extremo que agrava riscos à saúde e facilita a combustão da vegetação.

Rodovias que ardem e motoristas em risco

O fogo também se aproxima das pistas. No Paraná, a concessionária PRVias registrou um salto dramático nas queimadas às margens das rodovias do Lote 3: 12 ocorrências em junho contra 142 em agosto — quase 12 vezes mais. Casos como o grande incêndio na margem da BR-376, em Ortigueira (km 344, sentido Ponta Grossa), tornaram trechos perigosos, com fumaça densa e visibilidade comprometida.

Além do impacto ambiental — com perda de fauna e destruição de habitat —, as queimadas junto às rodovias aumentam substancialmente o risco de acidentes. A concessionária intensificou o mapeamento e o monitoramento das áreas críticas, desloca equipes com caminhões-pipa para conter incêndios de pequeno porte e aciona o Corpo de Bombeiros quando necessário.

“Nosso objetivo é reduzir os riscos de acidentes, preservar a segurança de quem trafega pelas rodovias e evitar danos ambientais.” — Arrison Szesz, gerente de Operação e Conservação da PRVias.

A campanha educativa da PRVias, “Queimadas: saiba como evitar acidentes”, distribui panfletos, orienta motoristas em painéis eletrônicos e recomenda atitudes práticas: reduzir a velocidade, manter os vidros fechados e nunca parar na pista quando houver fumaça.

Por que o Cerrado sangra?

O Cerrado é chamado de berço das águas: abriga nascentes que alimentam grandes bacias hidrográficas do país. Sua vegetação tem adaptações ao fogo, mas isso não significa invulnerabilidade. Quando períodos prolongados de seca se somam a incêndios de alta intensidade — muitas vezes causados por ação humana — o resultado é perda de solo, destruição de nascentes e redução drástica da capacidade do bioma de se regenerar.

Especialistas ouvidos por este jornal costumam lembrar que os números não contam as histórias que ficam depois das chamas: famílias que perdem pastagens, agricultores que veem sua renda minguar, comunidades tradicionais que sofrem com a perda de alimentos e dos meios de subsistência, e a saúde pública afetada pela poeira e pela fumaça que chegam às cidades.

Setembro pode agravar — e a responsabilidade é de todos

Com a permanência do clima seco, a tendência é de que setembro ainda guarde risco elevado. O combate exige estrutura — brigadas, caminhões-pipa, equipamentos — e também mudança de comportamento: evitar queimadas para limpeza de áreas, descarte responsável de pontas de cigarro, atenção redobrada ao trafegar por trechos com vegetação seca.

No fim das contas, o que está em jogo não é só a paisagem. É a água que deixará de brotar nas nascentes amanhã. É a fauna que teve seu território reduzido hoje. É a saúde de quem respira a fumaça agora.

📌 Com informações da Agência Brasil e PRVias

Se você tem relatos, fotos ou informações de campo sobre queimadas em sua região, envie para nós: sulpost@outlook.com.br ou pelo WhatsApp: (41) 99281-4340.

Publicado originalmente no Sulpost. Respeitamos e citamos as fontes utilizadas nesta reportagem.

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