Justiça Eleitoral barra prisão de Ciro Gomes, enquanto ele prepara seu retorno ao PSDB, o que pode fazer o PDT abrir caminho para Roberto Requião 2026
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Roberto Requião e Ciro Gomes - Eduardo Matsyak |
Fortaleza viveu mais um capítulo da longa trajetória de polêmicas de Ciro Gomes. Figura conhecida pela língua afiada e pelos embates frontais, o ex-ministro enfrentava a possibilidade de prisão, pedida pela Advocacia do Senado em defesa da prefeita de Crateús, Janaína Farias (PT). O juiz Victor Nunes Barroso, da 115ª Zona Eleitoral, rejeitou o pedido — mas impôs restrições: Ciro está proibido de mencionar, ainda que indiretamente, o nome da prefeita em discursos, entrevistas ou redes sociais.
Da acusação à medida cautelar
A medida surge após declarações de julho de 2024, quando Ciro, em entrevista, chamou Janaína de “assessora de cama” do ministro da Educação, Camilo Santana (PT-CE). A fala abriu processo por violência política de gênero. Desde então, a Justiça acompanha cada passo do pedetista, que tem enfrentado uma sequência de embates jurídicos e políticos.
“Tendo em conta as circunstâncias do caso concreto, considero necessária a imposição de medida cautelar diversa da prisão, que se mostra suficiente e adequada, qual seja: proibição de menção ao nome da ofendida Janaína Carla Farias, ainda que de forma indireta...” — decisão do juiz Victor Nunes Barroso.
Em caso de descumprimento, o político deverá pagar multa de R$ 10 mil por postagem ou declaração. Para um político acostumado a se colocar como voz crítica, a decisão funciona como uma mordaça seletiva.
Posicionamento da defesa
Procurado, o advogado Walber de Moura Agra declarou que a defesa reitera que Ciro não praticou violência de gênero. “Decisão judicial, a gente não discute, a gente cumpre. Nós continuamos reiterando que não há nenhuma violência política de gênero. A medida cautelar é se houver calúnia e difamação contra a prefeita Janaína, mas não houve interdição do debate político”, afirmou.
O movimento rumo ao PSDB
Enquanto enfrenta a Justiça, Ciro prepara uma guinada que promete redesenhar o tabuleiro político do Ceará. O presidente do PSDB no Estado, Ozires Pontes, cravou que o ex-ministro retornará ao PSDB ainda este ano, com filiação prevista para dezembro. O evento de filiação deverá reunir nomes locais e nacionais do partido e simpatizantes.
Segundo o dirigente, o adiamento da filiação para dezembro foi uma estratégia para dar uma "acalmada" no cenário político do Ceará, em meio às expectativas de mudança de partido e da pré-candidatura no ano que vem. A filiação, inclusive, segundo Pontes, mira uma candidatura ao governo do Estado.
O espaço do PDT
A provável saída de Ciro abre espaço para especulações dentro do PDT. O partido, que tem a tradição de lançar candidaturas próprias à Presidência, pode encontrar em Roberto Requião — histórico nome da esquerda paranaense — uma alternativa para 2026. Requião, conhecido por sua retórica nacionalista e defesa de estatais, poderia resgatar o espírito trabalhista da sigla em uma disputa presidencial.
Entre tribunais e palanques
Assim, Ciro Gomes segue em seu caminho paradoxal: ao mesmo tempo em que acumula processos e decisões judiciais que limitam seus movimentos, articula uma nova filiação que pode realinhar forças locais e nacionais. Entre a mordaça da Justiça e o palanque que o aguarda em dezembro, o ex-ministro tenta equilibrar o peso do passado com a promessa de um novo capítulo.
Para uns, ele segue sendo o franco-atirador incômodo da política brasileira. Para outros, apenas um político em busca de sobrevivência. O fato é que, mais uma vez, Ciro não passa despercebido — e dificilmente passará.
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