DEU RUIM PRA ELES! Justiça mantém condenação de Nikolas Ferreira por transfobia — e bolsonarismo começa a ruir por dentro
Por Ronald Stresser | Para o Sulpost| Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal, durante discurso na Câmara Pablo Valadares/Câmara dos Deputados |
O silêncio do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) ontem no Congresso falava mais alto do que qualquer discurso inflamado. Os olhos arregalados, o semblante abatido e a ausência de qualquer reação pública diante da decisão definitiva do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foram sinais de um político acuado. A Justiça bateu o martelo: Nikolas está condenado por transfobia e terá que indenizar sua colega de Parlamento, Duda Salabert (PDT), em R$ 30 mil. Não cabe mais recurso.
Mas essa não é apenas a história de uma condenação — é o reflexo de um momento em que a blindagem do bolsonarismo começa a trincar.
Duda, mulher trans, professora, ativista, e um dos nomes mais votados de Minas Gerais, enfrentou não só as palavras de ódio, mas uma estrutura inteira que tentou deslegitimar sua existência. “Esta foi a quarta sentença favorável desde 2021, mas ele ainda não cumpriu nenhuma”, disse. Agora, ela promete pedir a penhora de bens de Nikolas: “geladeira, televisão, videogame, tudo o que for necessário para garantir o pagamento do que é devido”.
Em 2020, durante a campanha para a Câmara Municipal de Belo Horizonte, Nikolas se recusou a se referir a Duda no feminino, ignorando sua identidade de gênero. “Ele é homem. É isso o que está na certidão dele”, disse à época. A frase, dita sem pudor, se tornou símbolo de um tipo de política que lucra em cima da humilhação de minorias.
Agora, a mesma Justiça que muitas vezes pareceu distante da dor das pessoas trans e travestis, finalmente sinaliza um novo caminho. "Esta decisão serve para interromper a perpetuação da transfobia em nossa sociedade", destacou a corte. Duda comemorou a decisão como uma vitória coletiva: “Reforça a importância do combate à transfobia e representa mais uma vitória da Justiça”.
Efeito dominó
Nos bastidores do Congresso, aliados de Nikolas — até então altivos, com celulares em punho para gravar discursos de efeito — pareceram encolher diante da nova maré. A cena é emblemática: a base bolsonarista, já enfraquecida pela delação premiada de Mauro Cid, enfrenta agora o colapso moral de um dos seus expoentes.
A delação, classificada por parlamentares como uma “delação branca”, tem o potencial de desmontar o que restava da retórica de guerra travada pelo bolsonarismo desde 2018. Empresários que antes financiavam candidaturas da extrema-direita agora recuam. Ninguém quer ter o nome atrelado a processos judiciais, investigações federais e condenações por discurso de ódio.
“O pânico bateu”, confidenciou um deputado do Centrão sob anonimato. “Estão todos com medo de cair juntos.”
A justiça ainda tem caminho a percorrer
Ainda que a condenação de Nikolas represente um avanço, ela evidencia também o tamanho da estrada que ainda precisamos trilhar. No Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de apenas 35 anos. A violência cotidiana, institucional e política segue sendo regra, não exceção.
A vitória de Duda é, sobretudo, um lembrete: não há mais espaço para a impunidade travestida de liberdade de expressão. O Parlamento, as escolas, os espaços públicos — todos precisam aprender que o respeito é inegociável.
Enquanto isso, Nikolas, que construiu sua carreira com vídeos virais e discursos provocativos, agora se vê preso em um enredo bem mais real: o da responsabilidade pelos próprios atos.
E se a Justiça tarda, ela, às vezes, chega — como chegou desta vez.
Fontes:
O Globo - Nikolas Ferreira perde recurso no STJ e terá que indenizar Duda Salabert por transfobia
Estadão - Duda Salabert celebra decisão judicial
Plantão Brasil - Base bolsonarista entra em pânico após novas revelações
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