domingo, 8 de junho de 2025

Opinião Sulpost: assédio de moradores e perseguições do síndico

Opinião Sulpost | Direitos Humanos
Importunação moral em condomínios: quando a violência ultrapassa os muros, atravessa as paredes, racha a família e invade a alma

Por Ronald Stresser – Especial Sulpost

 
 

A vida em condomínio, à primeira vista, parece simples. Portaria segura, áreas comuns organizadas, regras que prometem boa convivência. Mas basta olhar mais de perto para perceber que, em muitos desses espaços, há uma tensão que não se resolve com regulamento interno: a importunação moral, silenciosa, constante e profundamente devastadora.

Essa forma de violência, também chamada de assédio moral, não acontece apenas no ambiente de trabalho. Ela pode estar ali, na escada, no grupo de WhatsApp, nas assembleias, nos corredores. Pode vir de um vizinho, de um síndico, de um condômino que acredita ter o direito de regular a vida alheia com base em moralismos ou preconceitos.

E o dano que causa vai muito além do incômodo. Fere a dignidade, atinge a saúde mental e abala o direito à liberdade e à paz dentro do próprio lar.

Quando o lar deixa de ser refúgio

Viver em condomínio não deveria significar abrir mão da liberdade de ser quem se é. Mas, na prática, muitos moradores sentem-se vigiados, pressionados ou até perseguidos por conta de suas escolhas pessoais, religiosas, políticas, familiares ou de estilo de vida.

Situações como:

  • Comentários ofensivos sobre o modo de vestir ou o tipo de música ouvido dentro da própria unidade;
  • Pressão velada por parte de vizinhos para que uma família “se adeque” a um padrão moral específico;
  • Insinuações maldosas em assembleias ou grupos de mensagens;
  • Insultos, murmúrios e xingamentos como forma de “resolver” conflitos;
  • Fiscalização excessiva, seletiva e abusiva de regras — direcionada sempre aos mesmos moradores;
  • Isolamento social forçado, boicote e indiferença como punição silenciosa;
  • Corte de serviços básicos, como gás e acesso a áreas recreativas e demais serviços oferecidos pelo condomínio como forma de pressão para cobrança de taxas condominiais;
  • Humilhar, chamando a polícia abusivamente com falsas denúncias.

Essas atitudes, quando constantes, podem configurar assédio moral e stalking. São práticas abusivas que minam a saúde emocional, destroem a harmonia da convivência e, muitas vezes, forçam famílias a abandonarem seus lares — não por vontade, mas por exaustão emocional.

A importunação como instrumento de controle social

O assédio moral em condomínios tem uma particularidade perversa: ele não se limita ao espaço físico. Ele entra pelas janelas em forma de julgamento, disfarçado de “preocupação com a boa convivência”. Ele se esconde em frases como “aqui não é lugar para esse tipo de gente”, “isso não é comportamento de família”, ou “não condiz com os nossos valores”.

É um controle social travestido de zelo. É doutrinação comportamental sob o pretexto da ordem.

E mais: quando há polarização política ou religiosa, a violência moral se intensifica. Moradores são rotulados, excluídos ou atacados por suas opiniões. As assembleias deixam de ser espaços de gestão para se tornarem arenas de humilhação. O grupo de WhatsApp do condomínio, em vez de informar, passa a servir como tribunal virtual.

O perigo da normalização

O maior risco é achar tudo isso normal.

É acreditar que é “só uma piada”, “só um comentário”, “só um desabafo”. É fazer vista grossa quando alguém sofre exclusão ou é constantemente alvo de críticas. A repetição banaliza. E o que antes era um desconforto vira opressão institucionalizada.

Quando o pensamento e a liberdade de alguém são violados dentro do próprio lar, o que resta?

O lar, segundo a Constituição Federal, é inviolável. Mas essa inviolabilidade não é apenas física. É também moral, emocional e psíquica. É o direito de viver com liberdade, respeito e dignidade. E isso precisa ser respeitado por todos — inclusive pelos próprios vizinhos, independente de conceitos, crenças religiosas e falsos moralismos.

Condomínio não é igreja, nem partido, nem quartel

O papel da administração condominial é promover a convivência pacífica, respeitando a pluralidade. Condomínio não é extensão de nenhum grupo religioso, político ou moral. É um espaço coletivo onde cada um tem o direito de viver segundo seus próprios valores — desde que não viole a lei ou os direitos alheios.

A diversidade é o que forma a riqueza da vida condominial. Famílias de diferentes configurações, idosos, jovens, pessoas LGBTQIAPN+, casais com ou sem filhos, casados ou não, abstêmios e estilistas, fumantes e não fumantes,  religiosos e ateus — todos têm o direito constitucional de viverem em paz, sem serem forçados a pensar, crer ou agir conforme a vontade da maioria.

Quando se tenta moldar o comportamento do outro com base em achismos, moralismos ou preconceitos, o que se pratica não é organização. É opressão.

Como identificar e reagir à importunação moral em condomínios

1. Nomeie. Reconheça os padrões de violência psicológica.

2. Registre. Documente mensagens, áudios, atas e situações vivenciadas.

3. Denuncie. Leve à administradora, ao conselho, ao síndico e, se necessário, à Defensoria Pública ou à Justiça.

4. Busque apoio. Não enfrente sozinho. Grupos de moradores, amigos e até terapias ajudam.

5. Conheça seus direitos. A Constituição é clara: sua liberdade de pensamento, crença e privacidade é inviolável.

6. Dê um tempo: se estiver promovendo festas e reuniões em sua unidade condominial, ouvindo som muito alto... dê um tempo.

A liberdade começa em casa

Não existe cidadão de primeira, segunda ou terceira classe, seja em espaços públicos ou privados, como dentro de um condomínio. Todos são iguais. O lar deve ser espaço de segurança emocional, respeito mútuo, convívio pacífico, privacidade e liberdade de pensamento.

Violar o pensamento de alguém dentro de casa é mais grave do que quebrar a porta de entrada. É um crime contra a alma. E isso não pode ser tolerado.

Que se multipliquem os condomínios que promovem respeito em vez de controle, diálogo em vez de julgamento, acolhimento em vez de exclusão.

Porque só há verdadeira convivência onde há liberdade. E liberdade, como afirma a Constituição, é fundamento inalienável de uma sociedade mais justa e solidária.

Opinião Sulpost: porque viver em condomínio é compartilhar espaço — nunca abrir mão da própria identidade. Condomínio não é tribunal e a "Santa Inquisição" foi um dos períodos mais vergonhosos e cruéis da história da humanidade.


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