Com o pé no chão e os olhos nas estrelas: seis mulheres fazem história em voo espacial só delas
Por Ronald Stresser, da redação| O New Shepard, com seis mulheres à bordo, rumo à estratosfera - Blue Origin |
A bordo, nomes conhecidos e potentes: a cantora pop Katy Perry, a jornalista e empresária Lauren Sánchez (noiva do próprio Jeff Bezos, fundador da Blue Origin), a apresentadora Gayle King, a ex-cientista da NASA Aisha Bowe, a ativista Amanda Nguyen e a produtora de cinema Kerianne Flynn. Seis figuras públicas, seis mulheres de sucesso, seis cosmonautas endinheiradas, agora com um título em comum – todas já viram a Terra do alto, bem além da Linha de Kármán, o limiar simbólico do espaço sideral, a 100 km de altitude.
“Algo maior que eu está guiando esta jornada”, escreveu Katy Perry horas antes do lançamento. Ao pousar, ela ajoelhou-se e beijou o chão, em um gesto de reverência – talvez à Terra, talvez à vida, talvez ao próprio sonho realizado.
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| Katy Perry dá entrevista ao final da missão - Blue Origin |
Do chão ao espaço, em dez minutos
A missão durou o tempo de um café demorado. Mas o impacto, para quem acompanhou de perto – ou para quem esteve dentro da cápsula – parece ter rompido a lógica dos minutos.
Logo após a decolagem vertical, o foguete atingiu mais de 3.700 km/h. Em dois minutos, a cápsula se separou da base e seguiu sozinha, em silêncio, flutuando no escuro pontilhado de estrelas. Lá dentro, por 3 a 4 minutos, a ausência de gravidade deu às passageiras a chance de dançar no ar, sorrir como crianças e espiar a curvatura azulada do planeta por janelas panorâmicas.
Enquanto isso, o foguete – reutilizável – descia com precisão cirúrgica, pousando verticalmente. Depois, foi a vez da cápsula retornar, amparada por paraquedas e retrofoguetes que suavizaram a chegada no deserto do Texas.
Do lado de fora, um Jeff Bezos emocionado aguardava. Recebeu Lauren Sánchez com um beijo. Oprah Winfrey e as Kardashians, presentes na plateia, aplaudiram o reencontro.
Um voo simbólico (e milionário)
Esta foi a 11ª missão tripulada da Blue Origin, mas nenhuma como essa. Desde Valentina Tereshkova, a primeira mulher no espaço em 1963, nenhuma outra viagem havia sido feita apenas por elas.
Desta vez, não foi uma missão científica, nem de treinamento para futuras astronautas de carreira. Foi turismo espacial – mas com um peso simbólico inegável. “É sobre dizer que também podemos”, comentou Aisha Bowe, ex-cientista da NASA, antes do embarque.
Com valores estimados na casa dos milhões de dólares por assento, a missão levanta também debates sobre exclusividade e acesso. Não é todo dia que alguém pode comprar um bilhete para o espaço – muito menos qualquer mulher. Mas ainda assim, a imagem das seis, flutuando lado a lado, tem o poder de inspirar uma nova geração de meninas a olhar para cima com menos medo e mais ambição.
A Terra vista do alto
De cima, tudo parece diferente. A política, as guerras, os muros, as fronteiras... tudo fica menor quando se vê o planeta inteiro através de uma janelinha oval. “É impossível não se emocionar. É impossível não repensar tudo”, disse Gayle King em uma transmissão logo após o pouso.
A cápsula agora está de volta, as mulheres voltaram ao chão. Mas talvez, por dentro, nenhuma delas tenha de fato voltado. Levaram consigo a leveza do espaço, o silêncio absoluto das estrelas, e um novo olhar sobre o mundo. E nós, aqui embaixo, ganhamos também: a certeza de que o futuro pode, sim, ser mais plural, mais feminino – e, quem sabe, menos distante das estrelas.


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