domingo, 29 de dezembro de 2024

Os limites das alianças: Lula, legalidade e comunicação

Acordos e conciliações: limites necessários para preservar o projeto político de Lula

 

Ricardo Stuckert/PR
 

A presidência de um país é muito mais complexa do que liderar um partido ou uma frente partidária. Essa realidade impõe desafios inevitáveis de negociação e conciliação de interesses, muitas vezes com forças externas ao espectro político e ideológico do governante. Contudo, é essencial estabelecer limites claros para essas alianças, a fim de proteger a integridade do projeto político e a confiança do povo.

A esquerda que não cede ao capital financeiro e ao neoliberalismo não está pedindo a Lula que rejeite negociações ou acordos. O pedido é que tais conciliações respeitem princípios inegociáveis e não ultrapassem determinadas linhas vermelhas. Como advertiu Leonardo Attuch, do Brasil 247, os ataques a Lula estão por vir, e seus apoiadores, sejam blogueiros ou militantes, precisam identificar e defender juntos esses limites intransponíveis.

Os limites inegociáveis

1. Legalidade

Lula não pode, sob nenhuma circunstância, compactuar com ilegalidades, sejam elas propostas por aliados ou adversários. No caso recente das emendas irregulares envolvendo Arthur Lira, é imperativo que o governo se mantenha firme na legalidade, evitando qualquer ação ou omissão que comprometa sua integridade moral e política.

2. Comunicação direta com o povo

A segunda linha vermelha é a independência e a eficácia da comunicação do governo federal com a população. É inadmissível que Lula permaneça invisível na mídia corporativa, aparecendo apenas para ser criticado. Sua ausência contribui para uma desconexão com os 215 milhões de brasileiros que dependem das decisões do governo.

A comunicação direta é fundamental. Diariamente, o presidente deve se dirigir ao povo, como faziam líderes como López Obrador e agora Claudia Sheinbaum, no México. É preciso romper com a dependência da mídia corporativa e valorizar instrumentos próprios de comunicação.

A necessidade de uma rede pública de comunicação

Lula precisa compreender a importância de criar e fortalecer uma rede pública de comunicação de massa, que inclua rádio e TV abertas, como fizeram líderes históricos em momentos críticos. A ausência de um canal robusto impede que o governo comunique suas realizações, como a redução do desemprego, diretamente à população.

Enquanto isso, blogs e veículos independentes da esquerda desempenham um papel valioso, mas enfrentam limitações estruturais. Apesar de sua alta qualidade jornalística, muitos operam com poucos recursos e têm alcance restrito a nichos específicos. Para ampliar a mensagem e consolidar a democracia, é necessário um esforço coletivo que integre esses veículos a uma estratégia mais ampla de comunicação pública.

A luta pela hegemonia cultural

A criação de uma rede pública não é apenas uma questão de sobrevivência política, mas de disputa pela narrativa e pela hegemonia cultural, como alertava Gramsci. Uma TV Brasil aberta, forte e inclusiva, poderia levar ao público amplo o trabalho de grandes jornalistas e intelectuais progressistas, ampliando o alcance das ideias de esquerda e fortalecendo a democracia.

Lula não pode abdicar de falar diretamente ao povo. Isso deve ser um hábito, uma obrigação. Da mesma forma, blogueiros e comunicadores precisam priorizar o interesse coletivo, mantendo-se firmes na defesa da democracia, do estado de direito e das políticas públicas.

A construção de uma rede pública de comunicação é mais do que uma necessidade técnica; é uma missão cidadã, comprometida com a verdade e a pluralidade. Existe espaço para todos, e, mais importante, há um público ávido por informação e conexão.

O futuro da comunicação no Brasil está nas mãos daqueles que entendem que não se trata apenas de resistência, mas de transformação.

Ivo Pugnaloni

(Esta é uma versão sintetizada de artigo mais extenso publicado hoje pelo Movimento Paraíso Brasil. Nele encareço que os que pensam a esquerda como alternativa se engagem na construção de uma midia de massa com esse traço, algo inexistente no Brasil).

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