Carrefour tropeça feio ao criticar a agropecuária brasileira e sofre revés histórico
Alexandre Bompard, presidente do Grupo Carrefour - Divulgação |
Foi tiro no pé. Ao anunciar que não compraria mais carne do Mercosul, o grupo Carrefour, maior varejista de alimentos no Brasil, foi o protagonista uma das maiores crises diplomáticas e corporativas das últimas décadas. A declaração infeliz, feita pelo CEO global Alexandre Bompard, tinha como objetivo proteger agricultores franceses, mas acabou unindo brasileiros de diferentes setores em uma resposta vigorosa e bem coordenada.
O início do fiasco
O episódio teve início no dia 20 de novembro, quando Bompard afirmou que o Carrefour “não comercializaria carne do Mercosul”, ele alegou que os produtos da região não estavam atendendo às “exigências francesas”. A atitude, claramente protecionista, foi uma resposta aos agricultores franceses, que andam preocupados com o provável impacto do Acordo de Livre-Comércio entre União Europeia e Mercosul na produção local francesa.
O problema é que o movimento da rede multinacional não irritou somente o Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, mas também revelou desconhecimento sobre o impacto que a agropecuária brasileira tem na economia global – e até no próprio Carrefour.
Reação brasileira: união e força
A resposta foi rápida e certeira. Grandes frigoríficos, como JBS, Marfrig e Masterboi, suspenderam o fornecimento de carne para a rede no Brasil. Mais de 150 lojas da marca e do Atacadão começaram a sentir os impactos da decisão, com prateleiras vazias em um dos mercados mais estratégicos para o Carrefour, sua segunda maior operação global.
Além disso, o governo brasileiro, liderado pelo Palácio do Planalto e o Itamaraty, exigiu uma retratação formal. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi enfático: “Quem ofender a qualidade dos produtos brasileiros terá resposta à altura”. Arthur Lira, presidente da Câmara, também não poupou críticas, sinalizando a possibilidade de novas legislações que exijam reciprocidade econômica.
Mas o que realmente impressionou foi a união de mais de 44 associações do setor agropecuário brasileiro, que publicaram uma carta aberta repudiando as declarações de Bompard. Pela primeira vez em anos, o agronegócio brasileiro mostrou um alinhamento raro, colocando o Carrefour contra a parede.
O recuo francês
Não demorou para que a rede percebesse o tamanho do estrago. Na terça-feira (26), o Carrefour foi obrigado a recuar. Alexandre Bompard enviou uma carta ao governo brasileiro pedindo descul8pas formais e reconhecendo a “grande qualidade” da carne brasileira. A empresa ainda divulgou nota lamentando o impacto de suas declarações e reforçando a “boa relação” que sempre manteve com o agronegócio nacional.
Histórico de controvérsias
Esse não foi o primeiro escândalo do Carrefour no Brasil. Episódios marcados por violência e racismo, como o assassinato de João Alberto Silveira Freitas por seguranças da rede em Porto Alegre, em 2020, já haviam arranhado sua imagem. Agora, com a nova crise, o desafio de reconquistar a confiança do público brasileiro parece ainda maior.
Uma disputa global
A crise do Carrefour é reflexo de uma disputa maior: o Acordo de Livre-Comércio entre o Mercosul e a União Europeia. O tratado, que poderia movimentar cerca de R$ 274 bilhões, enfrenta resistência de países como França, Polônia e Itália, cujos agricultores temem a competitividade dos produtos brasileiros.
Embora o Brasil tenha conquistado mercados como a China, que consome 50% de sua carne bovina, a questão vai além de números. Como bem colocou o presidente Lula, o país deve continuar crescendo e “causando raiva” naqueles que insistem em desmerecer a qualidade de sua produção.
Lições do episódio
O caso Carrefour deixa uma mensagem clara: o Brasil não está disposto a aceitar ataques ao seu agronegócio, especialmente quando baseados em pretextos frágeis. Se o objetivo de Bompard era fortalecer a posição francesa, o tiro saiu pela culatra. E, para o Brasil, ficou a lição de que, quando se une, pode reagir com força proporcional às suas potencialidades.
Ao fim, o fiasco do Carrefour serviu para reforçar algo que o Brasil sempre soube: sua carne – e sua resposta – têm peso global.
Ronald Stresser, de Curitiba, Paraná.
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