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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Os Lusíadas (Três excertos) Luís de Camões

Seleção de "Os Lusíadas" pelo Min. Luís Roberto Barroso, postado no Twitter em 24/07/20


CANTO QUINTO   95
 "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!   96
 "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios: Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Sendo dina de infames vitupérios; Chamam-te Fama e Glória soberana, Nomes com quem se o povo néscio engana!"CANTO PRIMEIRO 

1

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,

Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram; 

2

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas

Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte. 

3

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta. 

CANTO TERCEIRO 

120-121
"Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo doce fruto,

Naquele engano da alma, ledo e cego,

Que a fortuna não deixa durar muito, ...
De noite em doces sonhos, que mentiam,
De dia em pensamentos, que voavam.
E quanto enfim cuidava, e quanto via,
Eram tudo memórias de alegria. 

CANTO QUINTO 

95

"Ó glória de mandar!
Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça 
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas! 

96

"Dura inquietação d'alma e da vida,

Fonte de desamparos e adultérios,

Sagaz consumidora conhecida

De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!"

        

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