sábado, 27 de dezembro de 2025

Requião volta ao centro do tabuleiro e redesenha a disputa pelo governo do Paraná em 2026

Entre alianças improváveis, reencontros com o PT e o avanço de Requião Filho nas pesquisas, a velha política paranaense reaparece renovada, tentando transformar memória, capital simbólico e articulação em projeto de um Paraná mais humano

A política paranaense vive um daqueles momentos em que o tempo parece dobrar sobre si mesmo. Passado, presente e futuro se cruzam na mesma mesa, misturando velhos nomes, novas estratégias e alianças que, até pouco tempo atrás, soariam improváveis. No centro desse rearranjo está novamente a família Requião — um sobrenome que atravessa décadas da história política do Estado e que volta a ocupar posição de destaque às vésperas das eleições de 2026.

Após deixar o PT e se filiar ao PDT, Roberto Requião e seu filho, o deputado estadual Requião Filho, reposicionaram-se com cálculo e senso de oportunidade. A mudança ocorre num momento simbólico: Ciro Gomes, principal liderança nacional do PDT, afastou-se da legenda e passou a orbitar o campo tucano, abrindo espaço para rearranjos internos e maior autonomia regional. No Paraná, esse movimento abriu caminho para uma reaproximação política justamente com o PT — partido do qual Requião havia saído de forma ruidosa.

O resultado é uma aliança que, embora carregada de tensões recentes, já está pactuada para 2026. O acordo aponta para uma chapa ao governo do Estado liderada por Requião Filho, hoje um dos nomes mais competitivos da oposição. Pesquisas recentes o colocam na segunda colocação das intenções de voto, atrás apenas do senador Sergio Moro. Ao mesmo tempo, o PSD do governador Ratinho Junior patina diante da indefinição sobre quem herdará seu projeto político, abrindo espaço para o avanço dos adversários.

Uma oposição que tenta virar maioria

A indefinição governista funciona como combustível para a reorganização do campo oposicionista ao ratismo. O grupo que fez enfrentamento sistemático a Ratinho Jr. na Assembleia Legislativa ao longo de seus dois mandatos parece, agora, caminhar para uma convergência inédita. A saída de Requião Filho do PT rumo ao PDT não fragmentou esse campo — ao contrário, ajudou a consolidar seu nome como alternativa viável e quase consensual da esquerda paranaense. O campo progressista paranaense começou a falar para fora como já prega há alguns anos o próprio Requião Filho, pois quem fala para dentro, apenas para seu próprio partido não ganha eleição.

O desafio, contudo, vai além da popularidade. Para transformar intenção de voto em projeto competitivo, será necessário montar uma ampla coalizão, capaz de garantir tempo de televisão e acesso ao fundo eleitoral. O primeiro passo já foi dado: o apoio formal do PT, maior partido da esquerda no estado.

A partir daí, o projeto busca musculatura. O PSB, hoje comandado no Paraná pelo deputado federal Luciano Ducci, surge como peça-chave. A aproximação exige superar ruídos recentes — especialmente porque Ducci foi alvo direto de críticas de Roberto Requião, o pai, durante a eleição municipal de Curitiba. Ainda assim, o pragmatismo começa a falar mais alto: em disputas estaduais, antigas mágoas costumam ceder lugar ao pragmatismo e à matemática eleitoral.

Outras siglas devem seguir o mesmo caminho. PCdoB e PV tendem a aderir naturalmente, por integrarem o campo aliado do PT em eleições majoritárias. Também há conversas envolvendo MDB, Rede e Avante, numa tentativa de formar uma frente ampla que dê sustentação política e estrutural à candidatura.

O papel de Requião pai e o retorno possível a Brasília

Enquanto o filho ganha centralidade no projeto estadual, Roberto Requião redesenha o próprio destino político. Aos 84 anos, o ex-governador, ex-prefeito e ex-senador avalia que disputar uma vaga na Câmara dos Deputados é hoje o caminho mais viável — e, talvez, o mais estratégico.

A possibilidade de retornar ao Senado esbarra num acordo já fechado entre PDT e PT: a vaga da esquerda será ocupada por Enio Verri (PT), atual diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional. Isso praticamente fecha a porta para Requião nessa disputa.

A Câmara, por outro lado, surge como terreno mais favorável. Internamente, o PDT aposta no capital político acumulado por Requião ao longo de décadas para puxar votos e ajudar o partido a voltar a ter representação federal no Paraná — algo que não ocorreu nas eleições de 2022. A experiência em Brasília, onde foi senador até 2019, também pesa a seu favor.

Um eventual retorno ao Congresso teria ainda um significado simbólico forte: interromper uma sequência de derrotas eleitorais que marcou a última década de sua trajetória.

  • 2014 – Ainda senador, concorreu ao governo do Paraná e perdeu no primeiro turno para Beto Richa;
  • 2018 – Tentou a reeleição ao Senado, mas ficou em terceiro lugar, atrás de Oriovisto Guimarães e Flávio Arns;
  • 2022 – Já filiado ao PT, foi o segundo mais votado ao governo, derrotado por Ratinho Junior no primeiro turno;
  • 2024 – Pelo pequeno Mobiliza, disputou a Prefeitura de Curitiba e terminou em sétimo lugar, com 17.155 votos, numa eleição vencida por Eduardo Pimentel.

A candidatura a deputado federal aparece, assim, como uma chance de recomeço político — menos exposta, mas ainda relevante, capaz de recolocar Requião no centro do debate nacional.

Trocas de partido, críticas e contradições

Desde 2022, Roberto Requião mudou três vezes de legenda. Deixou o MDB, partido ao qual esteve ligado por décadas, filiou-se ao PT, rompeu com a sigla acusando-a de agir apenas como instrumento eleitoral de Lula no Paraná, passou pelo nanico Mobiliza e, agora, chegou ao PDT a convite direto do presidente nacional do partido, Carlos Lupi.

Mesmo compondo uma aliança com o PT no plano estadual, Requião mantém o discurso crítico. Afirma que o PDT é hoje o único partido com um “projeto nacional” estruturado e insiste que, no Paraná, o PT atua prioritariamente como palanque presidencial. A contradição é aparente, mas revela um traço histórico do personagem: a disposição permanente de tensionar alianças sem necessariamente rompê-las.

Um roteiro que lembra Álvaro Dias

O caminho escolhido por Requião guarda semelhanças com o de outro nome histórico da política paranaense: Álvaro Dias. Ex-governador e ex-senador, ele deixou o Podemos, filiou-se ao MDB e tentou retornar ao Senado em 2022, após perder a cadeira para Sergio Moro. Assim como Requião, chegou a cogitar abandonar a política, mas acabou buscando uma nova tentativa de retorno.

Esses movimentos revelam algo maior: a dificuldade de renovação plena no cenário político estadual e, ao mesmo tempo, a força simbólica de lideranças que marcaram época e ainda conseguem mobilizar parcelas expressivas do eleitorado.

O duelo que começa a se desenhar

Enquanto a esquerda tenta se organizar, Sergio Moro aparece na dianteira das pesquisas. O senador ainda não oficializou sua chapa, mas nos bastidores circula o nome do deputado estadual Paulo Martins (Novo) como possível vice. Do outro lado, também não há anúncio formal, embora o deputado estadual Arilson Chiorato (PT), presidente estadual do partido, seja apontado como provável vice de Requião Filho.

A eleição de 2026, portanto, começa a ganhar contornos nítidos. De um lado, a direita e o centro-direita reunidos em torno de Moro. Do outro, uma frente ampla de esquerda e centro-esquerda que aposta na força simbólica e política de um sobrenome histórico para voltar ao Palácio Iguaçu.

Mais do que uma disputa eleitoral, o que se desenha é um embate de trajetórias, memórias e projetos de poder. Entre alianças improváveis, reconciliações forçadas e mágoas mal cicatrizadas, o Paraná se prepara para mais um capítulo em que a política, como quase sempre, mistura razão, emoção, a sobrevivência e o fortalecimento do campo progressista e da democracia no Paraná, estado conhecido pela volatilidade do eleitorado já demonstrada em eleições passadas.

No mais o apoio de Lula, que vê sua popularidade crescer — inclusive no Paraná com a vitória da diplomacia brasileira no acordo comercial com os EUA — certamente vai movimentar multidões com o presidente sendo candidato à reeleição.

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