Em Bogotá, presidente defende soberania da Amazônia, denuncia promessas vazias e convoca o mundo a assumir responsabilidade real
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© Ricardo Stuckert/PR |
Bogotá — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poupou palavras nesta sexta-feira (22). Diante de líderes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), ele lançou uma cobrança que ecoa como um grito de urgência: os países ricos precisam parar de empilhar promessas e começar a investir de fato no combate às mudanças climáticas.
“Eu quero ver quem vai dar o dinheiro”, desabafou Lula, arrancando reações que expõem a contradição histórica: enquanto a Amazônia é tratada como símbolo global, aqueles que mais poluem ainda resistem a pagar a conta da preservação.
O fundo e a COP30
O encontro em Bogotá faz parte da preparação para a COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA). Ali, Lula pretende lançar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), um mecanismo internacional de financiamento destinado a preservar biomas florestais presentes em cerca de 70 países — ecossistemas cruciais para a regulação do regime de chuvas e a captura de carbono na atmosfera.
“Em toda COP que a gente vai, se toma muitas decisões e depois elas não são executadas. Poucos países se matam para tentar cumprir, outros não dão a menor importância e outros, depois que termina a COP, negam a assinatura”, criticou o presidente.
Financiamento: promessas x realidade
Na sua fala, ficou clara a indignação com o financiamento prometido na COP29, no Azerbaijão: US$ 300 milhões por ano — valor considerado insuficiente diante da dimensão do desafio.
“É preciso que aqueles que acham que tem que manter a floresta em pé ajudem a pagar para que a gente possa manter essa floresta em pé”, afirmou Lula, lembrando que não se trata apenas de salvar árvores, mas também de garantir a vida de quem vive na região.
Amazônia viva, povos vivos
Lula enfatizou que a preservação não pode ignorar as populações que habitam a Amazônia: indígenas, pescadores, extrativistas e pequenos trabalhadores rurais. “A gente tem que manter a floresta em pé e os trabalhadores e indígenas que moram lá, vivos. É isso que nos interessa nessa COP30”, disse.
O presidente destacou que a conferência ocorrerá na própria Amazônia — e não em palácios ou cidades acondicionadas ao luxo — exatamente para que decisores vejam de perto a realidade dos rios, das matas e dos povos que dependem daquele ecossistema.
Soberania e críticas às potências
Lula também criticou o uso de pretextos por potências internacionais para intervir na região — citando, por exemplo, a movimentação de navios de guerra norte-americanos à costa venezuelana, sob a justificativa de combater cartéis. “Aqueles que poluíram o planeta tentam impor modelos que não nos servem”, afirmou.
Crime organizado e inauguração do centro policial
O presidente anunciou convite aos chefes de Estado amazônicos para a inauguração do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, em Manaus, no dia . Segundo Lula, o centro será peça-chave no combate ao garimpo ilegal, ao narcotráfico e ao contrabando de armas — crimes que destroem florestas, envenenam rios e expulsam comunidades tradicionais.
“O povo amazônico merece viver livre da violência. Violência que destrói a floresta e envenena as águas, que acaba com o sustento dos pescadores e dos extrativistas, que expulsa indígenas de suas terras e ribeirinhos das suas casas”, declarou o presidente, lembrando os nomes de quem tombou na defesa da floresta: Chico Mendes, Dorothy Stang, Bruno Pereira e Dom Phillips.
Nova governança mundial
Além das críticas e cobranças, Lula defendeu a criação de um conselho de clima dentro da ONU — um órgão capaz de mobilizar e garantir que os compromissos assumidos sejam efetivamente cumpridos. “O futuro do bioma não depende só dos países amazônicos. Mesmo que mais nenhuma árvore seja derrubada, a floresta continuará em risco se o resto do mundo não avançar na redução de gases de efeito estufa”, alertou.
O recado, em síntese, foi este: admirar a Amazônia de longe não basta. É preciso financiamento real, governança efetiva e respeito à soberania e às comunidades que mantêm a floresta em pé.
📌Com informações da Agência Brasil — cobertura do encontro da OTCA em Bogotá e trechos do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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