sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

"Soft Girls”: as mulheres que escolheram não trabalhar

Cansada de trabalhar? Conheça a tendência das "soft girls", as mulheres que escolheram viver sem pressão

 
Vilma Larsson diz ser uma "hemmafru" ("dona de casa", em sueco) - Instagram/VL

 

Você já pensou em largar tudo, desacelerar e simplesmente existir? Para um número crescente de mulheres jovens na Suécia, isso não é só um devaneio. É um estilo de vida. A tendência, conhecida como "soft girl", está ganhando espaço entre suecas que decidem abrir mão do trabalho para viver como suas avós: cuidando da casa, tomando cafés tranquilos, viajando e, acima de tudo, fugindo do estresse que parece marcar o mundo moderno.  

Vilma Larsson, de 25 anos, é um exemplo disso. Depois de experimentar empregos que a deixaram exausta — como trabalhar em uma fábrica e em uma casa de repouso —, ela decidiu parar tudo e viver de forma diferente. Hoje, Vilma é o que chama de “namorada que fica em casa”. Seu namorado, que trabalha na área de finanças, banca as despesas do casal. Enquanto ele está no laptop, ela se dedica a uma rotina que inclui academia, cozinha e passeios.  

“Minha vida é muito mais tranquila. Não estou estressada, não sinto aquele sofrimento constante que via nas mulheres da minha família. Estou feliz assim”, conta Vilma, enquanto relata que, para ela, a escolha foi uma forma de preservar sua saúde mental. 

De girl boss a soft girl

A Suécia, frequentemente lembrada como símbolo de igualdade de gênero, parece estar assistindo a um movimento contra a maré. Por décadas, o país incentivou famílias com dupla renda, com políticas como creches subsidiadas e licenças parentais compartilhadas. Então, por que jovens mulheres estão optando por depender financeiramente dos homens?  

“Trata-se de uma reação ao ideal da ‘girl boss’, que dominou por anos. Esse conceito exige que a mulher seja bem-sucedida em tudo: trabalho, família, autocuidado. A cobrança é muito alta, e muitas estão desistindo”, explica Johanna Göransson, pesquisadora sueca.  

A tendência começou a chamar atenção nas redes sociais, onde hashtags como #hemmaflickvän (namorada que fica em casa) e #softgirl viralizaram. Vilma, que compartilha seu dia a dia no Instagram e TikTok, já acumulou 11 mil seguidores. 

Mas nem todo mundo está aplaudindo. Gudrun Schyman, fundadora do partido Feministiskt Initiativ (Iniciativa feminista), vê o movimento como um retrocesso para a igualdade de gênero. “As jovens não conhecem a luta que foi para as mulheres terem o direito de trabalhar e serem financeiramente independentes. Essa dependência dos homens é perigosa e pode nos levar de volta ao passado.”  

Fugindo do burnout

Apesar das críticas, especialistas concordam que há algo mais profundo acontecendo. Na Suécia, 70% das licenças médicas por estresse são tiradas por mulheres, que ainda assumem a maior parte das responsabilidades domésticas, mesmo quando trabalham fora.  

“Esse movimento é, em parte, uma resposta às exigências impostas às mulheres”, afirma Peter Wickström, da Agência de Igualdade de Gênero da Suécia. Para ele, o burnout e a saúde mental são questões centrais no debate.  

Shoka Åhrman, economista, alerta que a escolha de abandonar o mercado de trabalho pode trazer consequências financeiras sérias no longo prazo. “Essas mulheres precisam estar cientes de como isso pode afetar suas economias e aposentadorias. É uma decisão que deve ser pensada com cuidado.”  

Tendência global

Embora a tendência tenha ganhado força na Suécia, a ideia de viver como as avós parece ecoar globalmente. Cada vez mais mulheres questionam se a busca por sucesso profissional vale o preço do esgotamento emocional. No Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, discussões sobre saúde mental e a rejeição da cultura da produtividade vêm crescendo.  

Vilma Larsson, porém, não vê arrependimentos no horizonte. “Quero ter filhos um dia, mas sem a pressão que vi minha mãe e minha avó enfrentarem. Elas sempre pareciam tão cansadas, tão preocupadas. Eu escolhi outro caminho.” 

Resta saber se essa tendencia será passageira ou se estamos diante de uma mudança cultural profunda e de alcance global, onde a felicidade ganha, finalmente, a briga contra o relógio e a cobrança por resultados.

Stresser, com informações da BBC.

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