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sábado, 30 de outubro de 2021

'Quando me surpreendo', por Clarice Lispector

“Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me.  Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida.  Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma.  Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita.  É que me descubro de outra qualidade.  Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa apenas viva.  Também me surpreende, os olhos abertos para o espelho pálido, de que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa.” - Clarice Lispector

“Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me.

Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida.

Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma.

Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita.

É que me descubro de outra qualidade.

Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa apenas viva.

Também me surpreende, os olhos abertos para o espelho pálido, de que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa.”

 

Clarice Lispector

 

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