Curimatã e Tilápia: Os Peixes que Podem Colocar o Brasil no Topo da Piscicultura Mundial
Num país onde rios desenham a alma do território, o peixe deixa de ser apenas alimento: ele é cultura, economia, oportunidade e gera novas divisas para o Brasil.
É nesse cenário de águas doces e possibilidades profundas, que o curimatã — ou curimbatá, como também é conhecido — tem vindo à tona como protagonista de uma nova revolução silenciosa na piscicultura brasileira.
Tradicionalmente associado à pesca artesanal e às comunidades ribeirinhas do Norte e Nordeste — em especial do Ceará — o curimatã começa a ganhar espaço nas mesas internacionais, ao lado da já consolidada tilápia sulista.
Juntas, essas duas espécies estão moldando um cenário em que o Brasil pode se tornar líder global na criação de peixes de água doce. Um verdadeiro campeão da aquicultura.
Dos lagos e rios direto à exportação
Com corpo prateado e alongado, o curimatã é um peixe nativo das grandes bacias hidrográficas brasileiras, como a do Amazonas, São Francisco e Tocantins-Araguaia. Alimenta-se de matéria orgânica do fundo dos rios e realiza grandes migrações durante o período de chuvas, num fenômeno conhecido como piracema.
O que até pouco tempo era visto como um peixe “do interiorzão”, ganhou status internacional. Só no primeiro trimestre de 2025, as exportações de curimatã cresceram 333%, movimentando mais de meio milhão de dólares, segundo dados do Ministério da Pesca e Aquicultura. Esse desempenho surpreendente coloca a espécie entre as mais promissoras da nova geração da piscicultura nacional, ao lado de outros nativos como o tambaqui.
Por que o curimatã chama à atenção?
A resposta está no conjunto de suas características naturais e comerciais. No ambiente certo, o curimatã cresce rápido, se reproduz bem em cativeiro e é resistente a doenças comuns na criação intensiva.
O peixe se adapta facilmente a tanques escavados ou viveiros com temperatura entre 24°C e 30°C e pH controlado entre 6,5 e 7,5. Além disso, sua alimentação onívora — com aceitação tanto de matéria orgânica quanto de ração — reduz os custos da produção, maximizando lucros.
Essa resiliência transforma o curimatã numa opção rentável para pequenos, médios e grandes aquicultores. E mais do que isso: sua criação exige menos medicamentos e antibióticos, o que o torna um produto atraente para o mercado internacional, cada vez mais preocupado com práticas sustentáveis e saudáveis.
Sabor que vai além das margens ribeirinhas
Na culinária, o curimatã ainda enfrenta certo preconceito em algumas regiões, principalmente devido ao leve sabor “barroso” que pode apresentar, dependendo da qualidade da água. Mas, com manejo correto e técnicas de preparo adequadas, revela uma carne macia, rica em nutrientes e ideal para receitas grelhadas, assadas ou defumadas.
Inclusive, chefs brasileiros têm incluído o peixe em pratos sofisticados, combinando ervas regionais e acompanhamentos leves que ressaltam seu sabor. Essa valorização gastronômica também impulsiona a aceitação do peixe em mercados mais exigentes, como o europeu.
O papel da tilápia e a força da diversidade
Embora a tilápia continue sendo a grande estrela da piscicultura brasileira — responsável por mais de 90% das exportações do setor —, a diversificação da produção é fundamental para o crescimento sustentável. A aposta no curimatã como espécie nativa permite fortalecer o mercado interno, proteger os ecossistemas locais e aumentar a presença brasileira no comércio internacional sem depender exclusivamente de uma única espécie.
A criação de curimatã, assim como da tilápia, também contribui para a geração de emprego e renda em áreas rurais e ribeirinhas, fomentando cadeias produtivas regionais e resgatando práticas ancestrais de manejo das águas. É a força da diversificação de culturas.
Futuro promissor para quem produz
Para os aquicultores que buscam expandir ou iniciar suas atividades, o curimatã se mostra como uma excelente aposta. Com boa margem de lucro, baixo risco sanitário e crescente aceitação no mercado, trata-se de um peixe que carrega não apenas escamas, mas promessas.
Claro, o sucesso na criação exige atenção ao manejo, controle da qualidade da água , sempre respeitando todas as normas ambientais e sanitárias. Seguindo as boas práticas — e com a consultoria certa — é possível unir a tradição e a inovação com a rentabilidade, tudo em um único criadouro.
Brasil, gigante das águas doces
À medida que o mundo procura alternativas sustentáveis de proteína animal, o Brasil — com sua vasta rede de rios e lagoas — se posiciona como um protagonista natural. E os peixes nativos, como o curimatã, são peças-chave nessa jornada rumo ao futuro do agronegócio.
Em tempos de emergência climática, escassez de recursos e busca por alimentos mais saudáveis, a piscicultura sustentável aparece como resposta concreta. E o curimatã nada cada vez mais longe, levantando a questão de que talvez seja hora do Brasil olhar com olhos mais atentos para às suas águas.
Passando a régua, o futuro da aquicultura brasileira pode estar justamente onde sempre esteve: em nossas águas doces.
*com informações do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Reportagem: Sulpost — jornalista responsável: Ronald Stresser.
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