sexta-feira, 13 de junho de 2025

Amazônia em Crédito: a floresta que pode salvar o planeta — e o Brasil

Brasil desponta no mercado de carbono com potencial bilionário — e a Amazônia é a chave

Por Redação Sulpost | Meio Ambiente

 
© Marcelo Camargo/Agência Brasil
 

Imagine uma floresta que não apenas abriga a maior biodiversidade do mundo, mas que também pode valer bilhões de dólares — sem que uma única árvore precise ser derrubada. Imagine, ainda, que esse valor não seja uma promessa distante, mas uma oportunidade real, concreta, batendo à porta dos estados que formam a Amazônia Legal.

Um novo estudo do Earth Innovation Institute (EII) acende uma luz sobre esse futuro possível: entre 2023 e 2030, os nove estados da região amazônica brasileira podem arrecadar entre 10,8 bilhões e 21,6 bilhões de dólares apenas com a venda de créditos de carbono. Não é ficção científica, nem utopia ambientalista. É matemática climática, baseada na floresta em pé.

Um futuro que começa agora

A conta considera um valor entre US$ 10 e US$ 20 por tonelada de carbono evitada, um preço modesto diante da urgência climática. Na ponta do lápis, isso significa que cada estado poderia receber, por ano, cerca de US$ 1,4 bilhão — valores que devem começar a ser pagos a partir de 2026, desde que os governos estaduais avancem na regulamentação e estruturação de seus programas.

A estratégia é baseada no modelo conhecido como REDD+ jurisdicional — Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. Funciona assim: em vez de projetos pontuais, quem assume a responsabilidade pela conservação é o próprio governo estadual. Ele cria metas, acompanha resultados, comprova o que foi protegido e, em troca, recebe por isso. É um pacto entre a floresta e a política pública.

Entre os estados que já deram passos importantes estão Acre, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocantins. Amazonas, Maranhão e Piauí também seguem no caminho, estruturando seus próprios programas de carbono.

O valor de manter a floresta em pé

A ideia pode parecer abstrata, mas seus impactos são bastante concretos. Segundo o estudo do EII, se o modelo for implementado de forma efetiva, será possível reduzir o desmatamento ilegal em até 90% até 2030 e em 98% até 2050. Não é apenas uma promessa: é uma possibilidade real de virar a chave do desenvolvimento predatório para um modelo de desenvolvimento regenerativo.

E mais: as emissões que deixariam de ser lançadas na atmosfera só com essa medida seriam equivalentes às metas de descarbonização de 27 países da União Europeia.

De forma ainda mais simbólica, os créditos já acumulados entre 2023 e 2024 — e que podem ser comercializados por US$ 10 por tonelada — já somam US$ 1,7 bilhão. Um valor comparável ao que o Fundo Amazônia distribuiu em 16 anos de existência.

O Brasil no centro do jogo global

Apesar de tudo isso, o Brasil ainda engatinha no que diz respeito à regulamentação do mercado de carbono. Mas há sinais de mudança. Em 2024, o mercado voluntário brasileiro movimentou entre US$ 1,4 e 1,5 bilhão, e a expectativa é que o país tenha uma fatia cada vez mais relevante no mercado global — que pode ultrapassar US$ 50 bilhões até 2030.

Afinal, o Brasil tem o que o mundo precisa: florestas, solo fértil, capacidade de regeneração e tecnologia. Segundo a consultoria McKinsey, temos 15% do potencial mundial de remoção de carbono por natureza. O agronegócio já faz sua parte: com práticas sustentáveis previstas no Plano ABC+, que prevê a redução de até 1,1 bilhão de toneladas de CO₂ até 2030.

Entre o ceticismo e a urgência

Ainda assim, há quem duvide. Nas redes, o mercado de carbono é frequentemente criticado como uma forma de "greenwashing" — empresas comprando perdão para poluir, em vez de mudar de verdade. A desconfiança é legítima, principalmente em um país onde o desmatamento já serviu, tantas vezes, de moeda política.

Mas talvez o erro esteja menos na ideia e mais em como ela é aplicada. Um sistema de créditos de carbono bem estruturado pode — e deve — envolver comunidades locais, indígenas, pequenos produtores. Pode financiar educação, saúde, inovação. Pode, em resumo, transformar conservação em dignidade.

A floresta como resposta

A Amazônia sempre foi tratada como desafio. Talvez seja hora de vê-la como solução.

O carbono que não emitimos pode valer mais do que o ouro escondido sob a terra. E a floresta viva, que sempre nos deu ar, água, remédio e alimento, agora também pode nos oferecer um caminho de crescimento limpo, justo e possível.

O Brasil não precisa escolher entre economia e natureza. A resposta pode estar exatamente onde tudo começa: na preservação da floresta.

- Com informações de: Earth Innovation Institute (EII), Agência Brasil, ABCarbon, Consultorias McKinsey e Systemica, Plataforma B3. Publicado por Sulpost. Para ler mais matérias sobre meio ambiente e futuro sustentável, siga o Sulpost no WhatsApp. Edição: Ronald Stresser.

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