Deputados do PL são alvo de nova operação da Polícia Federal contra desvio de recursos de cota parlamentar — durante a operação, que teve como alvo Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, ambos do PL, foi apreendido dinheiro, celulares e documentos
| Os deputados Sóstenes Cavalcante (PL) e Carlos Jordy (PL) — Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados |
Ainda era cedo quando viaturas da Polícia Federal romperam o silêncio de endereços em Brasília e no Rio de Janeiro. A rotina do poder, tantas vezes blindada por discursos inflamados e lives bem ensaiadas, foi atravessada pela materialidade da investigação: mandados de busca e apreensão, celulares recolhidos, documentos vasculhados e dinheiro contado nota por nota. O alvo, desta vez, são dois deputados federais do PL, partido que construiu sua identidade recente sob o discurso da moralidade seletiva.
A operação da PF apura suspeitas de desvio de recursos da cota parlamentar, verba pública destinada ao exercício do mandato. No centro da investigação estão Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara, e Carlos Jordy (PL-RJ), ambos nomes conhecidos do bolsonarismo no Congresso Nacional.
Um mecanismo antigo, uma prática recorrente
De acordo com a PF, os parlamentares teriam utilizado contratos simulados com locadoras de veículos para justificar despesas inexistentes ou infladas, desviando recursos públicos que deveriam servir ao trabalho legislativo. O expediente não é novo. A cota parlamentar, criada para dar autonomia aos mandatos, tornou-se ao longo dos anos um território cinzento, onde a fiscalização é frágil e a tentação do abuso se repete.
As investigações indicam que assessores e intermediários teriam participado do esquema. A operação atual, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), é desdobramento de apurações iniciadas ainda em 2024, quando funcionários ligados aos gabinetes já haviam sido alvo de medidas semelhantes.
Durante as buscas, a PF apreendeu quantia significativa em dinheiro vivo, além de aparelhos eletrônicos que agora passam por perícia. Para os investigadores, há indícios de crimes como peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O discurso e a contradição
A ação da Polícia Federal escancara uma contradição que o eleitor brasileiro conhece bem. Parlamentares que constroem sua imagem pública atacando “o sistema”, o “Estado inchado” e a “corrupção dos outros” agora aparecem no centro de uma investigação que questiona o uso de dinheiro público em benefício privado.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Carlos Jordy classificou a operação como “perseguição política” e negou irregularidades. Sóstenes Cavalcante, até o fechamento desta reportagem, não havia apresentado manifestação oficial.
A defesa é previsível. A investigação, porém, segue seu curso institucional, longe das câmeras e dos algoritmos, sustentada por documentos, cruzamento de dados e rastreamento financeiro.
O que está em jogo vai além dos nomes
Mais do que um episódio policial, o caso reacende um debate essencial: quem fiscaliza o fiscal? A cota parlamentar é paga com recursos do contribuinte — do trabalhador que acorda cedo, do pequeno empresário, do aposentado que sente o peso da inflação. Cada real desviado representa menos transparência, menos confiança e mais descrédito na política.
Em um país ainda marcado por desigualdades profundas, a banalização do uso indevido do dinheiro público corrói a democracia por dentro. Não se trata apenas de punir culpados, mas de romper ciclos históricos de impunidade, independentemente de partido, ideologia ou posição no tabuleiro do poder.
A Polícia Federal declarou que as investigações vão continuar e que novos desdobramentos não estão descartados. O Sulpost seguirá acompanhando o caso, com compromisso com os fatos, o interesse público e o direito do leitor à informação qualificada.
Porque democracia não se sustenta em slogans — se sustenta em responsabilidade, transparência e verdade.
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