Em meio à tensão global, decisão unânime une Legislativo e Executivo em torno da defesa do Brasil — e dá início à chamada “troca de chumbo” com os EUA
Por Ronald Stresser, redação Sulpost*Guerra comercial une o Brasil. Os presidentes Lula e Trump - Arquivo |
Na política, o consenso é raro, entretanto, quando o que está em jogo é a economia nacional, o Brasil mostra que ainda se lembra como colocar interesses partidários e ideologias de lado. Foi exatamente isso que aconteceu na última sexta-feira (11), quando o presidente Lula sancionou, sem vetos, a Lei da Reciprocidade Comercial — uma resposta direta e assertiva ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump.
A nova legislação, aprovada pela maioria esmagadora do Congresso Nacional, autoriza o governo brasileiro a adotar contramedidas comerciais, sempre que outro país impuser barreiras unilaterais aos produtos brasileiros. A lei entra em vigor na próxima segunda-feira (14), data em que será publicada no Diário Oficial da União. Mas, mais do que uma norma jurídica, a medida representa algo mais simbólico: a união do Brasil em defesa da sua soberania econômica.
Gesto que fala mais alto que o protecionismo
A decisão do governo americano de sobretaxar exportações, incluindo produtos brasileiros, acendeu o sinal de alerta em Brasília. A medida mais drástica do novo pacote tarifário de Trump foi a elevação de 10% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil aos EUA — com o aço e o alumínio penalizados com 25%.
Diante da ofensiva protecionista de Trump, a resposta brasileira veio rápida, firme e coordenada. “Não é retaliação, é defesa. O Brasil não pode ser alvo de um ataque comercial sem reagir. Estamos dizendo: se bater, vai levar”, afirmou um assessor do Palácio do Planalto, em condição de anonimato, à reportagem.
Congresso unido, povo impactado
A sanção da Lei da Reciprocidade Comercial não é apenas uma vitória do governo Lula — é, sobretudo, uma vitória do país. No Congresso, deputados e senadores de diferentes espectros políticos votaram de forma unânime a favor da proposta. O simbolismo é potente: em um Brasil polarizado, a defesa da economia nacional ainda consegue unir.
“Essa lei é sobre soberania. Não podemos assistir calados enquanto setores produtivos inteiros perdem competitividade por decisões tomadas fora daqui”, declarou a senadora Simone Tebet (MDB), uma das vozes mais ativas no debate da proposta no Senado.
Do outro lado da moeda estão os brasileiros comuns, que já começam a sentir os efeitos do tarifaço no bolso. Produtos eletrônicos, como iPhones e notebooks importados dos EUA, estão entre os itens que mais devem subir de preço. Em estados com forte dependência do comércio exterior, como Santa Catarina, o impacto pode ser ainda mais severo.
Do Planalto à Camex: os bastidores da decisão
A Lei autoriza a Camex (Câmara de Comércio Exterior) a adotar medidas como restrições às importações de bens e serviços vindos de países que prejudiquem os interesses do Brasil. No entanto, antes de aplicar qualquer sanção, o texto prevê que o governo busque negociações diplomáticas — uma tentativa de evitar que a “troca de chumbo” se torne uma guerra prolongada.
O Ministério das Relações Exteriores já trabalha nos bastidores para costurar diálogos bilaterais com os EUA. Mas a mensagem foi enviada: o Brasil está preparado para agir, caso não haja abertura para o entendimento.
Economia como território de defesa nacional
Mais do que uma briga de tarifas, o embate revela uma transformação: o Brasil, muitas vezes visto como espectador nas grandes disputas comerciais globais, agora assume protagonismo. Com a nova lei, o país passa a ter ferramentas concretas para defender suas empresas, trabalhadores e produtos.
A sanção presidencial também reforça a visão de que, quando o assunto é economia, o Brasil sabe caminhar unido. No final das contas, a Lei da Reciprocidade Comercial não é só sobre Trump, tarifas ou aço. É sobre proteger o que é nosso — e lembrar ao mundo que o Brasil não assiste calado quando o jogo é desleal.
*Com informações da Agência Brasil
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